Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

George Floyd, Genivaldo de Jesus e a punição de policiais

Queremos que sejam éticos e profissionais, internamente

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A notícia sobre Genivaldo de Jesus Santos chegou à TV em todo o mundo. Da mesma forma você viu na TV brasileira em 2020 o vídeo que mostrou George Floyd, outro homem negro, sendo assassinado por um policial branco de Minneapolis.

Momento em que agentes da PRF jogam gás dentro de viatura com Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos - Reprodução

Recebemos as notícias sobre outros países através de um pequeno olho mágico. Ele é direcionado para os clichês mais óbvios relativos aos países, como a insensatez do Partido Republicano nos EUA ou cariocas e paulistanos brincando loucamente no Carnaval.

Os clichês são toscos, mas nem sempre enganosos. O Partido Republicano de fato endoidou completamente, ficou insano. Na semana passada, um candidato republicano a deputado pelo estado de Nova York foi expulso da eleição quando disse que cogitava votar pela proibição da compra de fuzis AK47 por adolescentes.

"Eu não sou um cara mau", diz George Floyd diz aos policiais
"Eu não sou um cara mau", diz George Floyd diz aos policiais - Court TV

E, tanto no seu país quanto no meu, a polícia parece ser especialmente brutal com pessoas de ascendência africana. Talvez não, diz meu irmão conservador. Pode ser.

Seja como for, a polícia está autorizada a usar coerção sobre nós, às vezes brutal, e é preciso que seja autorizada. Precisamos de proteção, até de brutalidade, contra os bandidos. Como destacou um dos criadores da Constituição americana, James Madison: "Se os homens fossem anjos, governo nenhum seria necessário". O sociólogo alemão Max Weber resumiu há um século a própria definição de governo, dizendo que é "o monopólio de coerção em um determinado território".

Mas nesse caso precisamos vigiar quem detém o monopólio da coerção. A inovação hoje em dia é que podemos assistir a essa coerção pelo celular. Caso contrário, nem George Floyd nem Genivaldo de Jesus Santos seriam conhecidos.

Como todos nós, os policiais são hábeis em impedir que tomemos conhecimento de seus erros. Minneapolis demorou a formalizar uma queixa criminal contra o policial que ficou ajoelhado sobre o pescoço de Floyd por oito minutos e 46 segundos. Sem o vídeo, sua condenação por homicídio não teria acontecido.

Protesto em Minneapolis em 2021, na região onde George Floyd foi morto em 2020 - Kerem Yucel - 3.mar.2021/AFP

Mas espere aí. Queremos mesmo que nossos policiais sejam contidos unicamente pela ameaça de serem filmados e depois levados à Justiça?

Não. Queremos que sejam éticos e profissionais, internamente. Para que haja civilização, não basta punir. Como todos nós, os policiais precisam de virtudes aprendidas na infância. Não precisam apenas ser vigiados. James Madison sabia disso também. A Constituição que ele redigiu está ameaçada agora nos Estados Unidos porque a ética e o profissionalismo foram postos de lado, e não apenas pela polícia.

No Brasil também?

Tradução de Clara Allain

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