Deirdre Nansen McCloskey

Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

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Deirdre Nansen McCloskey

O protesto dos agricultores franceses

O público se dispõe a dar vantagem aos produtores e seu prejuízo é meu lucro

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Os agricultores franceses estão novamente em ação. Bloquearam as principais rodovias, despejaram esterco em alguns lugares, iniciaram incêndios em órgãos do governo em protesto porque o Estado francês não os está protegendo de modo suficiente. Eles fazem isso habitualmente. Desta vez estão protestando contra a queda dos preços, o aumento dos custos, a concorrência de outros agricultores europeus, as leis ambientais e a burocracia oficial. "Não nos façam competir. Temos o direito de ganhar a vida, mesmo estando mal preparados para isso."

O setor de laticínios, por exemplo, é protegido em todos os países do mundo. A produção de leite sempre é local, até certa medida, e seu localismo a torna boa para fazer lobby local. Nos Estados Unidos, Wisconsin, Vermont e outros lugares protegem ferozmente seus produtores de leite, e o governo federal também faz sua parte.

Agricultores franceses bloqueiam estrada com tratores em protesto contra a política econômica do governo de Emmanuel Macron - Aurelien Morissard - 29.jan.24/Xinhua

O presidente Emmanuel Macron chama a si mesmo de liberal, mas ele também é francês e tem de ceder ao estatismo secular de seu país. Seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, disse sobre os protestos que "o governo recebeu a mensagem em alto e bom som" e acrescentou que a agricultura é sua prioridade número 1. "Vamos agir em todas as frentes. Decidimos colocar a agricultura acima de qualquer outra coisa."

Os protestos e a reação do Estado são vergonhosos. Os agricultores franceses não são pobres. E mesmo que o fossem —"sofredores", como explicou um policial para justificar a inação da polícia contra os manifestantes— os agricultores não teriam um lugar especial na fila antes de todos os outros pobres, "acima de tudo".

Mas o público francês apoia os agricultores e o Estado em pânico. Mais uma vez, é universal. Lembramo-nos de nossas raízes rurais e romantizamos a vida no campo. Os japoneses são especialmente radicais nesse sentido. Os públicos francês e japonês se dispõem a proporcionar vantagem aos agricultores. E estes se dispõem a aceitar. Os agricultores brasileiros não são diferentes. O seu prejuízo é o meu lucro.

Mas existe uma teoria mais profunda que o mero egoísmo ou a soma zero. É a crença em que, de alguma forma, para o patrão com quem você negocia ou para uma grande economia que subsidia a agricultura há um Fundo da Sala dos Fundos, perpetuamente disponível para ser atacado para pagar a alguém. A teoria do Fundo sustenta todo tipo de negligência em gastos públicos e aprovação do público.

Não existe Fundo.

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