Desigualdades

Editada por Maria Brant, jornalista, mestre em direitos humanos pela LSE e doutora em relações internacionais pela USP, e por Renata Boulos, coordenadora-executiva da rede ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), a coluna examina as várias desigualdades que afetam o Brasil e as políticas que as fazem persistir

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Desigualdades
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Tereza Perez

Permanecer na escola ainda é desafio para estudantes brasileiros

Evasão e abandono escolar estão entre principais problemas da educação no país

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Antonio Bara Bresolin

Diretor executivo do D3e (Dados para Um Debate Democrático na Educação).

Tereza Perez

Diretora-presidente da Roda Educativa (antiga Comunidade Educativa CEDAC), que faz a gestão do Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb).

Dois grandes problemas da educação pública são a evasão e o abandono. O Censo Escolar 2023 revelou que quase 80 mil alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, 66 mil do 9º ano, 118,5 mil do 1º ano do Ensino Médio e cerca de 115 mil do 3º ano evadiram.

Quem mais deixa a escola são indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas, pretos e pardos; moradores de áreas rurais e do gênero masculino. É inevitável pensar em qual qualidade de vínculo, de percepção de acolhimento e pertencimento a escola oferece a eles. Mas além de direcionar o olhar das políticas públicas para levá-los de volta às salas de aula, é importante entender o que faz os que estão na escola lá permanecerem. Fortalecendo essas estratégias podemos agir preventivamente.

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Alunos no intervalo das aulas na Escola Estadual Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, em Aracruz (ES). - Karime Xavier/Folhapress

A Síntese de Evidências Permanência de estudantes no ensino fundamental, publicada pelo D³e (Dados para um Debate Democrático na Educação), aponta variáveis a serem consideradas. Livros didáticos e materiais pedagógicos afetam trajetórias escolares, daí a importância de garantir a revisão sistemática das políticas públicas de produção e distribuição, inclusive no que diz respeito à diversidade cultural e à representatividade —em especial de negros e indígenas. Outros dois fatores, as políticas de avaliação e de financiamento educacional, podem ser revistas à luz da equidade socioeconômica e étnico-racial.

As evidências indicam que é preciso oferecer propostas que apostam nas altas expectativas em relação aos estudantes. Escolas com resultados acima do esperado contam com professores que têm altas expectativas sobre o rendimento e o desempenho dos seus alunos. Mas isso não se resume a aumentar a exigência sobre essas crianças, adolescentes e jovens sem criar as condições para que construam suas aprendizagens. Implica acreditar na sua capacidade, escutá-los e oferecer propostas em que possam se engajar, e assim se disponibilizar para aprender, atribuir sentido ao que aprendem e se corresponsabilizar pelo próprio percurso.

Manter altas expectativas exige acompanhar as diferentes aprendizagens e ir progressivamente complexificando as propostas para que sempre tenham problemas a resolver a partir do que já sabem. Requer, portanto, ter altas expectativas também para os educadores.

Em um pacto de descrédito, todos esperam pouco uns dos outros, exige-se pouco do estudante e até do professor: a capacidade e a subjetividade de ambos não são respeitadas, cria-se um cenário estéril, por vezes hostil, retroalimentado pelos dois. É a profecia autorrealizável: os estudantes não conseguem aprender, não veem sentido no que é proposto e saem da escola. A exclusão é feita a priori e muitas vezes tem ápice na reprovação.

A educação requer bons insumos para ser a base dessa construção que garante a permanência escolar. O Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb) capta isso, considerando não só quem está na escola como aqueles que evadiram ou abandonaram. Analisa os resultados de aprendizagem e os insumos (condições das políticas públicas, como formação docente, jornada escolar diária mínima e tempo do diretor numa escola, considerando o impacto do sistema educativo sobre a trajetória escolar).

O Ioeb 2023 revela que o Brasil teve pequena variação nos últimos dois anos, passando de 5,0 na edição 2021 para 5,1 em 2023. Grosso modo, podemos dizer que, com o Ioeb nacional em 5,1, o país oferece metade do necessário para garantir as oportunidades de educação. Observa-se também queda no ritmo de crescimento do indicador: a variação positiva no quadriênio 2019-23 (4,3%) é menos da metade que a do quadriênio 2017-21 (8,9%). Estamos estagnados em uma situação ruim.

Há algumas pistas e muitos desafios para avançar no sentido de fazer com que todas as crianças, adolescentes e jovens permaneçam na escola e aprendam até concluir os estudos.

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