Djamila Ribeiro

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

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Descrição de chapéu Todas indígenas

O programa da USP para manter alunos vulneráveis na universidade

Dinheiro do Fundo USP Diversa financia bolsas de auxílio aos estudantes

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Uma das mais importantes ações afirmativas da história do país deriva da reivindicação por maior ingresso e permanência nas universidades públicas de alunos e alunas vindos de grupos sociais vulnerabilizados.

E desde o início do século, paralelamente às reservas de vagas para estudantes de baixa renda, as cotas raciais vêm sendo implementadas como ação afirmativa para a população negra e indígena. Foi necessária muita luta dos movimentos sociais para tanto e até hoje é feito um trabalho de conscientização sobre as desigualdades históricas que estruturam a sociedade.

Passados anos de vigência, uma série de pesquisas indicam resultados positivos, como o desempenho acadêmico igual ou superior de cotistas quando comparado aos não cotistas. Pesquisas ainda apontam impactos no bem-estar das famílias de baixa renda, beneficiando toda a sociedade, além de um serviço melhor e mais eficiente das empresas quando há uma composição plural em seus quadros.

Cada vez mais, evidencia-se como a insistência de uma elite brasileira, ao longo dos séculos, em privilegiar oportunidades apenas a um determinado grupo prejudicou o país e reflete, até hoje, em problemas graves de moradia, segurança, saúde, saneamento básico, entre outras áreas.

Muito tempo perdido com exclusões e falácias. É necessário um esforço integrado para pensarmos o futuro com generosidade e altivez. Para além da ação de combate às discriminações, o investimento em uma universidade de excelência, com verba suficiente de cuidado para que seus alunos e alunas possam aproveitar a graduação e pós-graduação, é um bem para a tecnologia e pesquisa do país.

Nesse sentido, é de saudar o lançamento do Fundo USP Diversa. Anunciado pela Universidade de São Paulo no último mês, o fundo vem levantando dezenas de milhões de reais para viabilizar bolsas de auxílio para a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade social. Para apoiar, é possível a doação tanto por pessoa física quanto jurídica.

A ilustração tem um fundo amarelo e ao centro a figura de uma pessoa de costas, vestindo uma beca preta (beca é um traje tradicional acadêmico, utilizado por formandos e formados nas cerimônias de colação de grau).
Ilustração de Aline Bispo para coluna de Djamila Ribeiro de 25 de abril de 2024 - Aline Bispo/Folhapress

O fundo nasce com grandes sonhos e estruturado sob os pilares da transparência e prestação de contas, além de um comitê gestor. Na concessão do auxílio, são consideradas vulnerabilidades socioeconômicas, de raça, gênero, etnia, orientação sexual e de deficiência. Entre seus objetivos está o combate à evasão estudantil —problema que assola a realidade de estudantes que não conseguem concluir suas graduações e pós-graduações por falta de oportunidade financeira.

Por essa razão, são destinados três auxílios: o auxílio permanência (de R$ 800 ou R$ 300), o auxílio alimentação, consistente em refeições gratuitas nos restaurantes universitários, e a destinação de 2.653 vagas de moradia nos campi da universidade. Somente em 2023, foram concedidos 304 auxílios e a expectativa é aumentar neste ano e nos anos seguintes.

Aproveito para parabenizar todas as pessoas envolvidas nessa iniciativa, o que faço na pessoa da cantora e compositora Marisa Monte, porta-voz e uma das idealizadoras do programa. Parabenizo ainda duas pessoas: a professora doutora Ludhmilla Hajjar, médica cardiologista e docente da universidade, pela idealização e articulação do fundo, como também Cristiane Sultani, diretora do Instituto Beja e responsável pelo aporte inicial de R$ 5 milhões.

Trata-se de uma iniciativa de vanguarda, que será, tenho certeza, espelhada para outras universidades públicas no país. E é necessário destacar que, embora o compromisso do setor privado com o apoio às universidades brasileiras seja fundamental, o Estado deve desenvolver políticas públicas de apoio a estudantes de baixa renda em universidades.

Pois quanto mais a USP e todas as universidades públicas brasileiras forem diversas, mais se vestirão da excelência. Parabéns e vida longa à iniciativa!

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