O governo pode liberar emendas, pode distribuir quantos cargos tiver e fazer quantas reuniões quiser que nada disso será suficiente para resolver a situação periclitante ora em cartaz na área política.
Dias piores virão caso o presidente da República não pare um pouco de correr atrás de uma indicação ao Prêmio Nobel ou à Secretaria-Geral da ONU e trate de cuidar da casa. No caso, o Brasil; notadamente, a Casa de representação dos brasileiros.
Lula quer marcar seu terceiro mandato pela inserção na cena como líder global e não haveria nada de errado se para isso não buscasse vestir um santo deixando o outro nu. Na toada obsessiva, e errática, tem conseguido desnudar os dois.
Fixações desmedidas não fazem bem a ninguém, podendo ser fatais a governantes. Ocupado no engendramento de um golpe de Estado "dentro das quatro linhas", Jair Bolsonaro entregou o governo ao Congresso para se dedicar a essa obsessão.
Perdeu o controle e a eleição. Deixou ao sucessor um dos piores entre os inúmeros males de sua herança. Esta sim, maldita: uma armadilha na forma do poder superlativo conferido ao Parlamento que, dele, não se dispõe a desistir.
Governo sem maioria na largada não é novidade, há sempre a necessidade de construir base congressual. Inédito é o volume de colisões em questões básicas como a reorganização das pastas de primeiro escalão e tentativas de anular decisões do Legislativo por decreto ou por recurso ao Judiciário.
Amadorismo detectado, as onças mais experientes sentiram o cheiro de carne fraca exalado do Palácio e armaram bote atrás de bote. Cabe a Lula mostrar que não perdeu a argúcia nem a habilidade para desarmar a arapuca.
E, aqui, não funcionará a imposição. Não é caso de força, é questão de jeito para recuperar a união prometida na campanha e concedida nas urnas e, assim, equilibrar a correlação.
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