Lula diz que falta de base no Congresso o leva a negociar com quem não gosta do governo

Presidente afirma que, para governar o país, não basta ganhar eleição e menciona correlação de forças no Congresso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Bernardo do Campo (SP)

O presidente Lula (PT) afirmou nesta sexta-feira (2) que, como sua base de apoio no Congresso é insuficiente para a aprovação de projetos, o governo precisa conversar com adversários para conquistar votos.

A fala vem após uma série de derrotas na Câmara e um sufoco para aprovar a MP (medida provisória) que organiza, com reveses para o governo, a estrutura dos ministérios.

Lula em evento na Universidade Federal do ABC - Marlene Bergamo/Folhapress

A uma plateia de estudantes na UFABC (Universidade Federal do ABC), em São Bernardo do Campo (na região metropolitana de São Paulo), Lula disse que é importante saber a correlação de forças no Congresso.

"A esquerda toda tem no máximo 136 votos, isso se ninguém faltar. Mas, para votar uma coisa simples, precisamos de 257. [...] É preciso que vocês saibam o esforço para governar. É importante que vocês saibam que não é só ganhar uma eleição."

"Você ganha uma eleição e depois precisa passar o tempo inteiro conversando para ver se consegue aprovar uma coisa", afirmou. Nesse momento, a plateia gritou "fora, Arthur Lira".

"Ontem, a gente corria o risco de não ter aprovado o sistema de organização do governo. E aí, você não tem que procurar o amigo. [...] Você tem que conversar com quem não gosta da gente, com quem não votou na gente", completou.

A MP, aprovada na quarta-feira (31) na Câmara e na quinta (1º) pelo Senado, esvazia poderes das áreas ambiental e indígena do governo federal. A votação na Câmara ocorreu horas antes de a proposta perder a validade e pouco após Lira, presidente da Casa, emparedar o Planalto e disparar críticas contra a articulação política do governo.

Apesar de Lula ter admitido que o governo não tem uma base formada nem para aprovar projetos simples, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela articulação política, não sinalizou mudanças na relação com o Congresso.

Questionado pela imprensa na tarde desta sexta, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde almoçou com Lula, ele afirmou apenas que o governo seguirá dialogando com líderes da base e da oposição. Ele minimizou as derrotas na Câmara e disse que as prioridades do Planalto foram aprovadas.

Padilha afirmou ainda que, ao contrário do governo anterior de Jair Bolsonaro (PL), o atual não cria crises desnecessárias, referindo-se a atritos entre os Poderes.

Já o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) falou em "aperfeiçoar" a relação com o Congresso, mas disse ser positivo que o governo tenha passado em seu primeiro grande teste. "Tudo precisa melhorar. [...] Vai ajustando e vai formando uma base", disse no sindicato.

Teixeira afirmou ainda que o Planalto pode tentar consertar o esvaziamento de alguns ministérios por meio de sanções ou vetos ao texto aprovado.

Lula esteve pela manhã na UFABC, criada no primeiro mandato do petista, para inaugurar um prédio de laboratórios.

Os 22 laboratórios de pesquisa científica e inovação tecnológica tiveram custo de R$ 28,6 milhões —R$ 13,6 milhões foram bancados pelo governo federal, R$ 3,1 milhões pelo Finep (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e outros R$ 11,9 milhões por emendas da bancada paulista e de deputados do PT e PSOL.

Em seu discurso, Lula também criticou Bolsonaro e disse jamais imaginar que o fascismo voltaria ao país.

"Esse país está recém-saído de um furacão, parece que passou por aqui uma praga de gafanhoto e tentou destruir tudo que a gente tinha", afirmou em referência ao ex-presidente.

"Essa é uma guerra que temos que fazer, é a famosa guerra entre o bem e o mal. Não precisa ser uma guerra entre a esquerda e a direita. [...] Tem quem gosta de democracia e quem não gosta", emendou.

Além de Padilha e Teixeira, Lula estava acompanhado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Márcio França (Portos e Aeroportos), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Renan Filho (Transportes) e Cida Gonçalves (Mulheres). Também estavam presentes a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, e o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB).

Apoiador de Bolsonaro, Morando foi vaiado pela plateia de estudantes. Já Haddad, que foi ministro da Educação de Lula, foi ovacionado, apesar dos protestos contra o arcabouço fiscal.

Os estudantes seguravam folhas com dizeres variados, como "Não ao arcabouço fiscal", "Fora Lira" e "Revogação do Novo Ensino Médio".

Lula e Camilo Santana, Ministro da Educação
Lula e Camilo Santana no evento - Marlene Bergamo/Folhapress

Em seguida, o presidente inaugurou um prédio na fábrica da Eletra, empresa brasileira de ônibus elétricos, também em São Bernardo do Campo. A fábrica terá capacidade para produção de 150 ônibus elétricos por mês e deve gerar cerca de 500 vagas de trabalho em dois anos.

Ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e da comitiva de ministros, Lula disse que irá convencer prefeitos do Brasil todo a mudarem seus ônibus para veículos elétricos e que não adianta falar em Amazônia e mudança climática sem tomar atitudes. Ele afirmou que o governo deve conversar com a empresa sobre a renovação da frota de ônibus escolares no país.

O presidente disse ainda que cabe "ao Estado brasileiro garantir a sobrevivência da indústria brasileira".

Depois da inauguração, Lula almoçou com ministros e aliados no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC antes de voltar para Brasília. Já a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, participou de um evento do núcleo de gênero da UFABC, ao lado da ministra Cida Gonçalves.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.