O impasse entre o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Aiba (Associação Internacional de Boxe) que ameaça tirar o boxe da grade de esportes dos Jogos Olímpicos parecia nuvem passageira, mas cresce a sensação de uma crise explosiva.
O COI exige uma revisão organizacional da Aiba, que é a entidade responsável pelo boxe nos Jogos Olímpicos. Na semana passada, após relatório da associação, a pedido do COI, o embaraço continuou sem solução. O alemão Thomas Bach, presidente do comitê, disse que houve progresso, mas que o boxe ainda corre risco de ficar fora de Tóquio-2020.
O COI aproveitou suspeitas de deslizes da modalidade na Olimpíada do Rio-2016, quando escalação de juízes e resultados de lutas causaram polêmicas, e pediu à Aiba ajustes na integridade esportiva, na gestão e nas finanças. A pressão, no entanto, parece usar esses temas como estratégia para pressionar a associação a ajustes que levem à instalação de uma boa imagem.
Por quê? Os esportes em geral enfrentam momentos delicados na ferrenha luta antidoping, na moralização, no ajuste de finanças e na transparência de gestão.
A Aiba, no momento, é comandada interinamente por Gafur Rahimov, russo-uzbeque, cidadão que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos aponta ter ligações com o crime organizado na Ásia.
Rahimov --não tem nenhuma condenação-- refuta tal classificação e está pedindo às autoridades norte-americanas que retirem seu nome da lista suja. Não se sabe se isso ocorrerá ou, em caso positivo, quando?
Enquanto isso, com certeza, o embate pode se alongar até novembro, na escolha do novo presidente da Aiba, durante encontro da cartolagem na Rússia, país que enfrenta vetos internacionais nos esportes, inclusive do COI, por escândalos de doping com participação estatal. Antes, em julho, o COI deverá avaliar novo relatório.
Na interinidade, iniciada no começo deste ano, Rahimov sanou parte de dívidas da Aiba. Assumiu o posto com a inesperada renúncia do interino anterior, Franco Falcinelli. Este, por sua vez, havia ocupado o cargo com a renúncia, em novembro passado, depois de longos 11 anos na presidência, do taiwanês Ching-Kuo Wu.
Candidato derrotado à presidência do COI, em 2013, e integrante da comissão de avaliação da Rio-2016, Wu não suportou pressão por dívidas da Aiba e insinuações de indícios de corrupção. Chegou a ser suspenso antes da renúncia.
Décadas atrás, alvo de críticas baseadas em suposta violência excessiva da modalidade, o boxe enfrentou forte campanha que pedia a sua exclusão da Olimpíada. A modalidade venceu a batalha com alegada garantia de segurança nas suas disputas.
Superada a crise, avançou ao ponto de incluir o torneio feminino em Londres-2012, sendo o último esporte a contar com disputas nos dois gêneros na competição.
Derrubar o boxe é tarefa quase impossível. Ainda mais com direitos de TV bancados pelos EUA, onde a modalidade, além de atração, conta com anunciantes.
O COI sabe disso, bem como da importância desse esporte e da sua transparência. Espero voltar ao assunto com o boxe garantido na Olimpíada do Japão.
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