Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Edgard Alves

Boa campanha na Copa não livra Rússia de lambança de doping

Aos poucos, a dramática situação parece caminhar para uma trégua

A arrancada da Rússia na Copa com vitórias sobre Arábia Saudita (5 a 0) e Egito (3 a 1) foi uma surpresa, pois o time não vencia desde outubro do ano passado. Nesta segunda (25), caiu diante do Uruguai (0 a 3), mas passou às oitavas.

Apesar do tropeço, o desempenho inicial da seleção anfitriã foi tão inesperado que serviu para atiçar olhares maldosos e de desconfiança sobre o vigor físico apresentado. O desconforto, no entanto, ficou na especulação. Surgiram apenas insinuações, nenhum indício ou comprovação de qualquer irregularidade.

Tal situação foi provocada pela fama de violadora das regras de uso de drogas proibidas para melhorar desempenho na qual a Rússia se meteu nos últimos anos. O pico da controversa lambança ocorreu na Olimpíada de Inverno de Sochi-2014, quando o esquema de burla ao doping teria contado com respaldo estatal. Investigações da Agência Mundial Antidoping detectaram as fraudes. O governo russo continua negando participação no episódio.

Em relação à Copa, a questão foi levantada pela mídia e provocou até uma manifestação da Fifa em defesa dos russos, reiterando posicionamento do mês passado sobre o mesmo problema. Naquela oportunidade, o zagueiro Rubin Kambolov, investigado devido a supostas violações de doping, estava na lista preliminar da Rússia para o Mundial, mas depois foi dispensado por causa de uma contusão.

Na verdade, o tema doping é um barril de pólvora ao lado de uma vela acesa quando se trata da Rússia. O histórico das irregularidades praticadas pelo país está bem batido. Punir ou não os russos virou a obsessão olímpica, envolvendo denúncias de irregularidades em cerca de 30 modalidades esportivas.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) ficou numa corda bamba. Na Olimpíada do Rio-2016, a entidade se absteve de uma decisão mais drástica e passou a cada federação internacional a decisão de aceitar ou não a participação dos russos nos Jogos. O Comitê Paraolímpico Internacional, por sua vez, optou pela proibição da Rússia na Paraolimpíada, disputada logo depois.

Posteriormente, o COI chegou a mudar sua orientação, endossando o afastamento total do Comitê Olímpico Russo dos seus eventos. A revogação ao veto, no entanto, veio encerrar a punição em fevereiro último, após a Olimpíada de Inverno de PyeongChang, na Coreia do Sul, na qual atletas russos participaram sem representar o país.

Aos poucos, a dramática situação parece caminhar para uma trégua. A Copa pode ajudar nesse sentido. Há leves avanços em outras áreas. Na semana passada, a Iaaf (Associação Internacional de Federações de Atletismo), a entidade com posições mais radicais a favor da punição da Rússia, anunciou que outros 33 atletas do país haviam sido aprovados para competir, embora ainda não sob a bandeira do país.

Na Copa, a questão do doping fica mais restrita aos bastidores. Ali, óbvio, não escapa da mídia que cobre o evento. No apronto para o confronto com o Uruguai, um jornalista perguntou ao técnico da Rússia, Stanislav Tchertchesov, sobre testes antidoping.

Tchertchesov respondeu que estava ali para falar sobre o jogo e que era técnico, não médico. Alegou que o vigor físico mostrado por seu time não é novidade, já apresentara uma boa forma na Copa das Confederações no verão passado, agora está mais forte e tem a motivação de jogar em casa, na frente de seus próprios fãs.

A determinação dos jogadores da seleção russa nesta fase de grupos da Copa foi importante para a classificação, mas não suficiente para acabar com a fama da tramoia do uso de recursos ilícitos no esporte pelo país. Pelo contrário, realçou uma suspeita, possivelmente incorreta pela falta de provas, de que onde há fumaça tem fogo, como reza o velho ditado popular.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.