Nos anos 1970, pouco mais de uma década depois que os revolucionários derrubaram Fulgêncio Batista e Fidel Castro assumiu o poder em Cuba, a pequena ilha do Caribe iniciou uma arrancada nos esportes com incentivos governamentais.
Nas Olimpíadas de Barcelona-1992 ganhou protagonismo ao conquistar 31 medalhas (14 de ouro). Foi o auge do sucesso cubano nos esportes. Até então, a ilha tinha sido peça-chave na Guerra Fria, o embate entre Estados Unidos e seus aliados contra o bloco da União Soviética (URSS). Cuba recebia generoso respaldo dos soviéticos e da Venezuela.
Havana, a capital cubana, chegou a recepcionar delegações de cerca de 40 países, em 1991, como anfitriã dos Jogos Pan-Americanos. O país ainda usufruía de benefícios gerados pelos apoios das décadas anteriores.
Mas, naquele período, o mundo estava ruindo no leste europeu, o muro de Berlim seria derrubado, haveria o desmembramento da URSS e a Guerra Fria chegaria ao final. A Venezuela, por sua vez, enveredaria por caminhos cheios de armadilhas.
Cuba ficou acuada, e o esporte local acompanhou a caótica situação. Muitos atletas deixaram o país em busca de oportunidades aparentemente mais atraentes no exterior. Técnicos, atletas e outros especialistas em esportes também correram atrás de trabalho fora do país, a maioria dos quais via convênios negociados pelo governo.
A transformação na política esportiva, paralelamente, pressionou a organização das delegações cubanas, que foram sendo reduzidas nos grandes eventos, bem como o intercâmbio internacional. As conquistas de pódio também encolheram.
Na Rio-2016, Cuba arrebatou 11 pódios (5 medalhas de ouro). Em Tóquio, até terça (27), a delegação havia ganho apenas uma medalha, de bronze.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos de 2009 a 2017, lançou em seu segundo mandato pacote de incentivos para a aproximação com Cuba, mas o sucessor dele, Donald Trump, freou o movimento.
Entretanto, para Arturo Valenzuela, um dos mentores para o estreitamento das relações com os cubanos, o contexto do momento favorece o atual presidente Joe Biden, que pode retomar ou reformular as medidas implementadas por Obama.
Desta vez, a delegação cubana embarcou para as Olimpíadas com o país enfrentando uma situação delicada, em que milhares de cubanos saíram às ruas em Havana e outras cidades para protestar contra o governo.
O recrudescimento da pandemia de coronavírus impulsionou as manifestações. Além disso, o turismo, um dos motores da economia cubana, está praticamente paralisado. Há inflação crescente, apagões e escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos. O governo cubano atribui a atual situação econômica ao embargo dos EUA.
Nestes Jogos, diferentemente do sucesso nas Olimpíadas durante a Guerra Fria, Cuba chegou a Tóquio com discrição, sem mídia, reforçando a ideia de que o "bicho papão" de pódios não é mais o mesmo.
Mas isso não é uma imagem certeira, definitiva. Os cubanos costumam surpreender. A delegação tem cerca de 70 atletas, praticamente a metade da que esteve no Rio. Os destaques ficam com boxe, atletismo, luta livre e judô.
Cuba resiste, sem os irmãos Castro –Fidel, já morto, e Raúl, que deixou o poder pouco tempo atrás–, os comandantes da ilha desde a vitória da Revolução, em 1959. No mundo esportivo, é possível falar em resistência cubana em Tóquio. Não em nova arrancada. Certo?
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