Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Protestos por direitos humanos ameaçam esquentar Jogos de Inverno

Organizadores chineses já alertaram que atletas estrangeiros podem enfrentar punições por discurso que viole a lei do país

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As tensões políticas crescem em intensidade contra a China, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. Mais uma vez, os direitos humanos alavancam os protestos. A China estaria cometendo supostos abusos contra a população muçulmana uigur, na região de Xinjiang.

Como as Olimpíadas são uma poderosa vitrine mundial e os riscos da pandemia de Covid-19 parecem sob controle, o COI (Comitê Olímpico Internacional) e os organizadores chineses estão de orelha em pé com as possíveis manifestações durante as competições. O foco está sobre os atletas, que têm acesso a meios de comunicação em geral e suas declarações ganham repercussão.

Os organizadores chineses já alertaram que atletas estrangeiros podem enfrentar punições por discurso que viole a lei chinesa, especialmente em questões políticas. A posição da China, no geral, está de acordo com a regra 50 do COI contra protestos políticos nos Jogos.

A questão é que parte dos atletas está cada vez mais atenta sobre direitos humanos. Esse envolvimento é crescente, estimulado pelas mídias sociais e pela globalização das informações.

Guarda caminha em frente a uma placa publicitária dos Jogos de Inverno de Pequim
Guarda caminha em frente a uma placa publicitária dos Jogos de Inverno de Pequim - Fabrizio Bensch - 24.jan.2022/Reuters

Isto posto, como controlar a emoção de um atleta durante um evento no qual ele obteve uma conquista pela qual esperou por quatro anos ou mais, e passou todo o tempo sob sacrifício nos treinamentos, na alimentação e nos encontros sociais em geral? O quadro emocional do competidor é bastante sensível.

Se as regras da China estão de acordo com as do COI, alguns pontos restam subjetivos. Como analisar uma declaração? Ela pode ter interpretações, significados variados. Pode ser contra a China, mas pode ser contra outros países ou contra o país do próprio atleta.

Além disso, não foram explicitadas as tipificações e extensões das penas para condenações. Parece que a cara do freguês vai determinar os limites da punição. Os organizadores chineses ainda têm muito que explicar. As leis chinesas são muito vagas sobre crimes que envolvem manifestações políticas e direitos humanos.

Pedi ao COB (Comitê Olímpico do Brasil) uma visão geral, direta, sobre as questões em foco. A assessoria de imprensa da entidade respondeu com os quatro parágrafos seguintes.

"O Comitê Olímpico do Brasil (COB) acredita que a liberdade de expressão é um direito universal. O COB segue e orienta aos seus atletas e integrantes da delegação todas as recomendações da Carta Olímpica.

A Regra 50, remodelada pelos atletas antes dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, tem o objetivo de proteger a neutralidade do esporte e dos Jogos Olímpicos, garantindo o direito de expressão dos atletas e preservando o campo de jogo e o pódio de manifestações políticas, religiosas ou raciais que possam constranger ou agredir os outros envolvidos no evento.

Assim como foram nas últimas Missões, todos os participantes de Pequim 2022 tiveram que realizar os Cursos Esporte Antirracista e de Educação e Prevenção ao Abuso e Assédio no Esporte. Os deveres e direitos de todos os envolvidos devem ser mantidos, assim como o respeito aos Valores Olímpicos.

O papel do Comitê Olímpico do Brasil é organizar a delegação brasileira e trabalhar para dar as melhores condições possíveis para que os atletas possam realizar o seu trabalho. Por isso, os primeiros integrantes da delegação do COB já desembarcaram na China para organizar a entrada dos atletas nas Vilas. No total, são 11 atletas e 30 oficiais."

Direitos humanos são amplos, têm vários vieses, e entidades sociais reivindicam forte, com razão, contra violações. Como sempre em cenários de grandes eventos internacionais de esportes, os países acusados de violações de direitos humanos se defendem com veemência alegando não cometer nenhum dos crimes atribuídos a ele, mas impedem a livre circulação de informações e acesso aos locais de atritos.

O barulho cresce, aumentando a polêmica nas relações internacionais. Os Estados Unidos esboçaram um levante ameaçador contra a China e os Jogos, aproveitando a visibilidade das Olimpíadas de Inverno. Foram acompanhados pela Grã-Bretanha e pela Austrália desde o primeiro momento, dando a impressão que arrastariam muitos países para um grande protesto.

O movimento não progrediu como esperavam seus incentivadores. Talvez tenha faltado contundência, pois ficou restrito a uma batalha diplomática como tantas outras que sempre ocorrem em setores variados. Dá a sensação de coisa falsa, aproveitadora da repercussão de um momento esportivo, de paz, com apoio de inúmeros países.

Manifestações dessa natureza são situações nas quais os países a favor ou contra os protestos aproveitam para tirar alguma vantagem do entrevero.

Com a aproximação dos Jogos, o protesto volta a ganhar força, mas o evento não será esvaziado. Os países protestantes liberaram seus atletas para competir. As solenidades oficiais não contarão com a presença de representantes diplomáticos dos países que apoiarem o movimento. Por enquanto, esse é o boicote.

A Human Rights Watch, organização mundial de direitos humanos, recomenda que competidores que forem a Pequim evitem tocar em assuntos polêmicos para não receberem represálias da China.

As Olimpíadas já passaram por momentos mais pesados, como os boicotes de Moscou-1980, liderado pelos Estados Unidos, e a resposta da então União Soviética com a ausência em Los Angeles-1984. Aquelas ações desfalcaram os eventos de inúmeras estrelas. Os contendores contaram com apoio de parceiros. Nenhum lado ganhou, todos perderam.

Em 2028, Los Angeles abrigará as Olimpíadas de Verão. Será que a China vai aproveitar a oportunidade e dar o troco nos norte-americanos?

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