Engenheiros e designers automotivos se esforçam para transformar em tablets os painéis de comando dos automóveis.
A justificativa para tanto esforço está em pesquisas secretas que detectam o interesse dos consumidores em replicar no carro o que têm no bolso ou na bolsa: seus smartphones com tela sensível ao toque.
A obsessão chegou ao ponto de uma única tela concentrar as funções do sistema de som, do ar-condicionado, do computador de bordo e do navegador por GPS. A ausência de botões físicos deixa o ambiente refinado, mas confuso.
Em testes recentes feitos pela Folha com modelos das marcas Honda, Volvo e Citroën, a tarefa de mudar a temperatura da cabine exigia atenção extra. Era preciso clicar na tela touchscreen para acessar o ar-condicionado e aí mexer na ventilação. Para voltar ao sistema de som, o motorista tinha que tocar em outro botão virtual.
Uma ação que antes exigia apenas girar ou apertar botões torna-se mais longa e menos intuitiva. Aumenta a distração ao volante, que já é perturbado por toda a conectividade que nos cerca.
Outro inconveniente é a gordura da pele, que faz a tela ficar suja e opaca.
No mundo idealizado, motoristas não teriam problemas com isso e só mexeriam nos apetrechos de seus veículos quando estivessem parados, em segurança.
Na vida real, os condutores, que já se distraem com os sinais sonoros e visuais de seus smartphones, perdem mais tempo para fazer ações até então corriqueiras.
Comandos por voz tentam minimizar os riscos, mas quem os usa? Siri e Alexa nem sempre entendem o que é falado e não se pode esperar que um carro em movimento, com os ruídos do ambiente que o cerca, dará ouvidos ao que diz seu motorista.
Se o tal público entrevistado em pesquisas secretas afirma querer automóveis com comandos iguais aos de seus telefones, é preciso fazê-lo voltar às aulas de direção prática e simular os riscos da distração. O mundo não pode ser virtual quando se está em um veículo de 1.500 quilos a 100 km/h.
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