Os dias com restrições à movimentação nas grandes cidades do país levaram à diminuição nas emissões de poluentes. Essa sensação de ar limpo e o receio de usar transporte público podem ser novos estímulos ao uso de bicicletas.
De acordo com a Abraciclo (entidade que representa os fabricantes de veículos de duas rodas), há aproximadamente 70 milhões de bikes em circulação pelo país, que é o quarto maior produtor desses veículos no mundo.
No ano passado, 2,5 milhões de bicicletas foram montadas no Brasil, número que exclui os modelos infantis. No mesmo período, 2,8 milhões de carros de passeio e comerciais leves saíram das fábricas instaladas no país.
A discussão sobre o uso de bikes como meio de transporte ganhou destaque com as ciclovias. Embora pedalar por aí ainda pareça uma novidade nas metrópoles, esse modo de ir e vir já está consolidado há décadas nas regiões periféricas das capitais e em muitas cidades interioranas.
Como os números mostram, trata-se de uma opção real de locomoção, não um modismo.
Ao apresentar dados recentes do setor, Cyro Gazola, vice-presidente da Abraciclo, disse que países como França, Reino Unido e Estados Unidos estão estimulando a população a usar bicicleta para evitar aglomerações em transportes públicos. A entidade deseja que ações semelhantes sejam adotadas no Brasil.
Afora interesses comerciais, as bikes são, de fato, os mais acessíveis veículos não poluentes. É possível adquirir um modelo adulto por menos de R$ 1.000 ou, se disponível, compartilhar por meio de aplicativo.
O apelo ambiental das bicicletas também tende a ganhar relevância diante de um cenário difícil para as montadoras de automóveis. As empresas, que já passavam por maus momentos devido aos investimentos elevados para eletrificar seus carros e atender a normas rigorosas antipoluição, viram as receitas evaporarem com a pandemia.
Para evitar a quebradeira —e ainda mais demissões mundo afora—, é provável que ocorram mudanças nas metas de redução de emissões. Datas de implementação devem ser postergadas, inclusive no Brasil.
O incentivo ao transporte individual pode ainda engavetar discussões sobre uso racional do automóvel, aumentando a poluição.
Se ao menos o uso das bikes for estimulado —e facilitado—, uma modalidade limpa de transporte urbano tem chances de voltar a crescer.
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