Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Eduardo Sodré

Chuvas e paralisações ameaçam resultados da indústria automotiva em 2024

Setor passa por momento de alta, mas produção interrompida e dificuldades para importar devem mudar cenário

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os números do setor automotivo se mantiveram acima das expectativas no primeiro quadrimestre. As vendas de veículos leves e pesados tiveram alta de 16,3% em relação ao mesmo período de 2023. Na produção, o crescimento é de 6,3%. Os dados são da Anfavea (associação das montadoras).

O cenário, contudo, tende a mudar. As linhas de produção interrompidas por diferentes fatores e a paralisação das atividades de servidores ambientais já afetam a produção, a importação e a exportação de automóveis.

Os principais problemas estão no Rio Grande do Sul. As enchentes levaram a paradas em fábricas localizadas no Brasil e na Argentina, além dos entraves para receber peças e escoar parte do que já foi manufaturado.

Linha de produção do Chevrolet Onix em Gravataí (RS); unidade está parada devido às enchentes no Rio Grande do Sul - Divulgação

Segundo levantamento feito nesta terça (7) pelo Sindipeças (associação dos fornecedores de componentes), as interrupções afetam mais os fornecedores instalados na região metropolitana de Porto Alegre. A situação fabril é melhor em Gravataí e Caxias do Sul, mas há problemas logísticos que atingem toda a região.

"As empresas estão em alerta, a qualquer momento podem ser impactadas. A região Sul tem 540 unidades fabris em diferentes segmentos", diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

A fábrica da General Motors na cidade gaúcha de Gravataí está com as atividades interrompidas até sexta (10). A empresa americana parou a linha de montagem na quinta (2). Naquele momento, o objetivo era reduzir os estoques, com retomada das atividades prevista para esta semana. Contudo, o cenário mudou por causa das tempestades e inundações.

"Em razão das fortes chuvas que atingem o Estado do Rio Grande do Sul, a General Motors concedeu days-off nos dias 8, 9 e 10 de maio na fábrica de Gravataí como medida para priorizar a segurança dos seus empregados", diz o comunicado enviado pela montadora.

"A fábrica já estava com parada programada nos dias 6 e 7 de maio, o que minimizou os impactos. A empresa também tem trabalhado em conjunto com o Instituto GM e voluntários para apoiar empregados atingidos e a comunidade com doações em dinheiro, alimentos e roupas, além do empréstimo de veículos para operações de resgate."

Na Argentina, a linha de montagem do Fiat Cronos, na cidade de Córdoba, está paralisada. Além de o Rio Grande do Sul ser rota para o envio de itens necessários à fabricação dos carros, parte das peças é fornecida por empresas instaladas no estado. A produção na fábrica do grupo Stellantis deve permanecer interrompida até o dia 13.

Os carros montados por GM e Stellantis nas linhas paralisadas somaram 54,6 mil unidades emplacadas no Brasil no primeiro quadrimestre. O dado é da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos).

Outro problema associado à crise no Rio Grande do Sul é o mercado interno do estado, que representa 5% do total das vendas de automóveis no Brasil. É esperada uma queda acentuada dessa participação em maio.

"Algumas montadoras têm sinalizado riscos de interrupção das atividades, e essa situação tem requerido um esforço muito maior da indústria para atingir os resultados esperados", afirma o presidente da Anfavea. "Por enquanto, estamos com a luz amarela acesa."

Outro problema relativo à região Sul é a greve dos funcionários da Renault, no Paraná. A decisão foi tomada em assembleia realizada nesta terça (7) pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.

A medida ocorreu devido a impasses durante a negociação para o pagamento de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e o debate sobre o reajuste da categoria.

Os funcionários da Horse, empresa que fabrica motores e funciona dentro da Renault, também entraram em greve pelo mesmo motivo.

A fábrica paranaense tem cerca de 5.000 funcionários, divididos em dois turnos. São fabricados 800 veículos por dia.

Márcio de Lima Leite diz que, apesar das paralisações, a Anfavea não pretende mudar suas projeções agora. Em dezembro, a entidade previu um crescimento de 7% nas vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no país em 2024. Pelo cálculo, o ano terminaria com 2,45 milhões de unidades comercializadas.

Já a expectativa para a produção é de alta de 4,7%, o que representaria a montagem de 2,47 milhões de unidades neste ano.

Ibama trava importação de 47 mil automóveis

Além das interrupções na produção, o setor é afetado pela paralisação dos servidores ambientais. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é responsável pela emissão das licenças de importação de carros.

Esses documentos comprovam que o órgão está ciente da entrada desses produtos no território nacional, atestando conformidade com as regras ambientais vigentes no Brasil.

Segundo o presidente da Anfavea, há 47 mil veículos aguardando liberação nos portos e pátios de diferentes países. São automóveis que têm motor a combustão, incluindo os híbridos. Apenas os carros elétricos estão sendo importados normalmente, por não precisarem dessa licença ambiental.

O prazo de liberação, que antes era imediato, agora tem demorado entre 20 e 30 dias, o que explica o acúmulo de automóveis.

"Começamos a ter um impacto bem mais significativo devido à paralisação, com prejuízos inclusive no lançamento de veículos", afirma Leite.

Um exemplo é o caso da picape Fiat Titano, que é produzida no Uruguai. Apesar de ter sido lançado em março, o utilitário ainda não chegou à rede concessionária devido à paralisação do órgão ambiental.

"A Stellantis informa que suas marcas, a exemplo de outras empresas do setor, têm sido fortemente impactadas pela paralisação do órgão responsável pela emissão das licenças ambientais exigidas pela legislação vigente. Com isso, veículos importados seguem no aguardo da liberação da documentação necessária para serem comercializados no país", diz nota enviada pela empresa, que é dona da marca Fiat.

"Identificamos, ainda, que muitos pedidos em carteira correm o risco de serem cancelados, já que não há uma previsão de data de entrega. A Stellantis acompanha diariamente o andamento do tema para minimizar ao máximo os impactos junto aos concessionários e consumidores."

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.