Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Elio Gaspari
Descrição de chapéu CRISE ENERGÉTICA

Com câmara de regras excepcionais, governo opta pelo negacionismo

Cloroquina, a 'gripezinha' e a 'nova política' ganharam uma companheira

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A cloroquina, a "gripezinha" e a "nova política" ganharam uma companheira. É a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, criada em junho. Atrás dessa salada escondem-se o risco de um apagão devido à falta de chuvas e a opção preferencial pelo negacionismo que alimenta as marquetagens do governo.

Bolsonaro não pode ser responsabilizado pela redução do volume de água nos reservatórios, mas quando decide encarar o problema maquiando-o, agrava-o. A pandemia mostrou que nos desvãos do negacionismo e da prepotência infiltram-se as picaretagens de intermediários milagreiros.

No caso da falta de chuvas, o governo erra porque quer. Tem à mão a literatura do desempenho do governo de Fernando Henrique Cardoso na crise de 2001. Os demônios de então eram os mesmos de hoje: burocratas negacionistas protegiam-se com a dispersão da autoridade.

FHC deu plenos poderes a Pedro Parente, seu chefe da Casa Civil, e ele criou uma Câmara de Gestão da Crise de Energia. Os marqueteiros reclamaram, pois não queriam falar em crise.

Parente bateu o martelo:

-- Não, tem que usar a palavra crise. É Câmara de Gestão da Crise de Energia, porque a população precisa entender que estamos vivendo uma crise. Não adianta esconder.

Se ele não tivesse feito isso, talvez tivesse sido criada uma Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética.

José Arthur Giannotti

Foi-se o professor José Arthur Giannotti. Deixou sua obra e um exemplo de distanciamento do poder.

Amigo por décadas de Ruth e Fernando Henrique Cardoso, hospedava-se no palácio da Alvorada quando ia a Brasília.

O filósofo José Arthur Giannotti durante inauguração de exposição em 2019 - Zanone Fraissat - 9.fev.2019/Folhapress

FHC colocou-o, por mérito, no Conselho Federal de Educação, que autoriza a criação de universidades particulares. Quando entrou na pauta a transformação das faculdades Anhembi-Morumbi em universidade, ele votou contra, perdeu, pegou o boné e abandonou o conselho.

Na época ele explicou:

"Há faculdades sem bibliotecas, que tomam estantes emprestadas quando temem a chegada da fiscalização. Há escolas que são caça-níqueis. Quando anunciei minha demissão, um dos conselheiros disse que, tendo perdido a votação, eu queria vencer no tapetão. O meu jogo é outro. Não recorro a amizades para resolver esse tipo de problema. Eu estava hospedado no Alvorada e não comentei o episódio com o presidente. Não vou ganhar no tapetão. Quero ir à luta no gramado."

Lutou enquanto viveu.​

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