Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Caso da Americanas tem coitadinhos demais

Investigações dirão quem sabia o quê e quem levou quanto

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Depois de examinar as contas da rede varejista Americanas, os três grandes acionistas da empresa dispuseram-se a colocar R$ 7 bilhões no negócio. Os credores acharam pouco. (Dias antes a oferta estava em R$ 6 bilhões.)

Bilhão para cá, bilhão para lá, é provável que a Americanas sobreviva, encolhendo. Ela sairia do mercado de vendas eletrônicas e voltaria a ser uma simples rede de lojas, onde o freguês entra, pega a mercadoria, paga e vai embora.

A Americanas foi depenada numa fraude duradoura. As investigações dirão quem sabia o quê e quem levou quanto. O mercado sempre soube que a Americanas espremia os fornecedores espichando por meses os pagamentos.

Loja da varejista Americanas no Rio de Janeiro
Loja da varejista Americanas no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel - 29.jan.2023/AFP

Até agora, os números mostram o seguinte:

Nos últimos dez anos, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, os grandes acionistas, receberam R$ 500 milhões em dividendos e investiram R$ 1,5 bilhão sob a forma de aumentos de capital. Nenhum dos três vendeu ações da Americanas.

Nesse mesmo período, os executivos da empresa receberam, só de bônus por desempenho, R$ 700 milhões.

(Que desempenho? Se a ideia era cortar custos porque, como as unhas, eles sempre crescem, agora estão querendo arrancar as unhas alheias.)

Entre agosto e setembro, quando se tornou público que a Americanas seria dirigida por Sergio Rial, um executivo vindo do banco Santander, diretores da empresa venderam R$ 244,3 milhões em ações. (No final de 2022 a Americanas capotou, indo do lucro para o prejuízo.)

Nos últimos dez anos os bancos foram felizes parceiros da Americanas e, em operações de crédito legítimas, ganharam algo como R$ 20 bilhões.

Como disse Carlos Alberto Sicupira numa palestra energizadora para papeleiros:

"O Brasil não será Estados Unidos. Porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação e é o país da impunidade. Isso é cultural. Não vai mudar."

Essa frase ecoa o príncipe de Salinas do romance "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, explicando a grandeza e decadência da Sicília. Com um rombo estimado de R$ 40 bilhões, o caso da Americanas tem coitadinhos demais. Cada um exerceu seus direitos. Resta agora saber se a Comissão de Valores Mobiliários lhes mostrará o tamanho de suas obrigações e responsabilidades.

Números do ouro

A Polícia Federal estima que entre 2020 e 2022 o garimpo ilegal tenha extraído 13 toneladas de ouro da Amazônia.

Dito assim, é mais um número. Estima-se que em cinco anos a mina de Serra Pelada tenha produzido 30 toneladas. Em 1983, seu melhor ano, produziu 17 toneladas.

Entre 1735 e 1755, no apogeu do ciclo do ouro, as minas brasileiras produziam cerca de 15 toneladas anuais.

Fazendo a conta de outro jeito, os grandes acionistas da rede Americanas ofereceram um aporte de R$ 7 bilhões. São 22,5 toneladas de ouro.

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