O filme “Uma noite de 12 anos” conta a história do martírio, em várias prisões militares, de três membros do Los Tupamaros, movimento radical da esquerda armada uruguaia na virada dos anos 1970.
Um dos personagens é José Mujica, que seria depois presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Na época do filme, ele tornou-se refém da ditadura uruguaia (1973-1985), que ameaçava executá-lo caso os revolucionários voltassem às armas.
Na sessão em que assisti ao filme no domingo (25), a surpresa veio no final, com os créditos rolando. “Lula livre!”, gritou uma mulher na plateia, aplaudida com entusiasmo no cinema lotado.
Lula está preso desde abril, condenado a 12 anos e um mês por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex em Guarujá.
O processo levou tempo recorde da primeira à segunda instância: 42 dias, ante média de 96 de outros no mesmo percurso. Atropelou ainda sete ações da Lava Jato na sua frente.
Na outra ponta há o tucano Aécio Neves e o caso JBS. Aécio virou réu em abril, mas foi preciso que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, cobrasse o Supremo, no fim de agosto, para que desse prioridade na publicação do acórdão para a instauração do processo penal.
Na própria Lava Jato há outros casos morosos envolvendo o STF, como os dos ex-presidentes Fernando Collor, acusado por crimes relacionados à BR Distribuidora, e José Sarney, suspeito de receber dinheiro da Transpetro.
Em breve, mais um ex-presidente vem ai, quando Michel Temer deixar o governo e se deparar com seus próprios rolos.
Único até aqui julgado rapidamente, Lula ficou de fora da eleição e deixou seus simpatizantes indignados com a suposta parcialidade do sistema. Para seus advogados e partidários, assim como a de Mujica, sua prisão é política.
Mas no dia seguinte à sessão de cinema, Lula foi novamente denunciado, agora por influir em negócio da Guiné Equatorial com uma empreiteira, que emitiu recibo de doação de R$ 1 milhão para o Instituto Lula.
Dois dias antes, na sexta, ele já havia se tornado réu no chamado “quadrilhão do PT”, agora acompanhado de Dilma Rousseff. Lula responde ainda a outras cinco ações (sítio em Atibaia, Instituto Lula e operações Janus, Zelotes 1 e Zelotes 2).
Ao que parece, o “Lula livre” pelo tríplex não vai adiantar muito —e isso é a Justiça quem decide. Mas se a plateia está indignada, poderia gritar o contrário, pondo na frente o nome dos demais.
Até porque um terço das ações contra políticos no Supremo costuma prescrever.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.