Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio

Bolsonaro adotou técnicas de caráter duvidoso em entrevista ao JN, na Globo

Presidente usou ferramenta para disparar uma sequência de asneiras a ponto de confundir o interlocutor

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No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro candidato entrevistado pelo Jornal Nacional, na Rede Globo. Durante 40 minutos, o candidato à reeleição respondeu a perguntas
de William Bonner e Renata Vasconcellos sobre respeito às urnas, pandemia e Amazônia.

Para não perder o controle durante a entrevista e mostrar seu lado grosseiro e desequilibrado de sempre, o presidente adotou todas as ferramentas usadas em discursos e entrevistas por pessoas de caráter duvidoso.

Na ilustração de Galvão Bertazzi vemos um aparelho televisor transmitindo a entrevista com o presidente da república. Na tela vemos o presidente gorfando chorume pela boca. O chorume atravessa os limites da tela de TV e se espalha por toda a sala de estar, inundando todo o ambiente. Mergulhados no chorume vemos um homem segurando um controle remoto, uma mulher, um gato e uma xícara de café que bóia no líquido viscoso. Um vaso de plantas e um abajur também flutuam à deriva.
Ilustração para coluna de Flávia Boggio publicada em 24 de agosto de 2022 - Galvão Bertazzi

Ao responder as perguntas de Renata Vasconcellos, ele abusou de "manterrupting", hábito de homens interromperem falas de mulheres, ao discordar da âncora constantemente antes que ela terminasse as perguntas. Também apelou para o "gaslighting", ao tentar fazer com que ela parecesse equivocada, como quando mentiu que nunca havia imitado pacientes com falta de ar.

Outra técnica muito adotada por pessoas sem escrúpulos é "name-dropping", que consiste em citar nomes aleatoriamente para dar credibilidade ao discurso.

Para dizer que seu governo tem um alto padrão, Bolsonaro mencionou ministros como Marcos Pontes, Ricardo Salles e Onyx Lorenzoni. Como se um senhor-propaganda de travesseiros, um ecocida e um veterinário que acredita que formigas transmitem coronavírus fossem sinônimo de excelência.

Outra ferramenta adotada pelo presidente na entrevista foi a de citar pequenos atos para dizer que fez um grande trabalho. Conhecida também como lei do mínimo esforço, o presidente contou que, na pandemia, visitou lares na periferia de Brasília, porque se locomover por um raio de dez quilômetros já basta para mostrar solidariedade ao Brasil.

Por último, a técnica "mashit gun", conhecida no Brasil pelo simpático nome de "merdalhadora", que consiste em falar uma sequência de asneiras a ponto de confundir o interlocutor.

O presidente falou asneiras em série, como "o tratamento precoce é uma liberdade do médico" ou "usei uma figura de linguagem" quando insinuou que a vacina transforma pessoas em jacaré.

Ou que foi responsável pela transposição do rio São Francisco e pela criação do Pix. Nesse caso, a merdalhadora foi tão grande que os entrevistadores acabaram por desistir de refutar as respostas.

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