Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu LGBTQIA+

Qatar sofre para segurar bêbados clandestinos e inventivos

Como diz o ditado, 'podem cortar a cerveja, o uísque, a tequila, mas jamais conseguirão deter a bebedeira inteira'

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Desde que decidiu proibir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, autoridades do Qatar enfrentam problemas em segurar os bêbados clandestinos tumultuando a Copa.

O país decidiu, na véspera do início do evento, endurecer as regras e proibir a venda de álcool nos estádios. Para muitos que pagaram caro para viajar ao país árabe, foi como comprar um pacote para ir a Las Vegas e descobrir que, na verdade, o destino era o Encontro de Jovens com Cristo.

Não deve ser fácil para o torcedor amante de uma gelada pegar um voo de quinze horas e chegar em um país com temperaturas entre 30ºC e 50ºC para assistir a um jogo de futebol e só poder beber Coca-Cola.

Na ilustração de Galvão Bertazzi temos uma multidão espremida e pegando fogo na parte inferior do desenho. Eles estão em chamas e sedentos. Na metade superior da ilustração um grupo de Sheiks se esbaldam com bebidas alcoólicas geladas e refrescantes.
Ilustração para coluna de Flavia Boggio - Galvão Bertazzi

É fato que as leis islâmicas proíbem o consumo de bebidas alcoólicas. Mas a Fifa escolher sediar a Copa em uma autocracia absolutista religiosa, sendo que os torcedores são tradicionalmente diversos, democráticos e bêbados, é mais um sinal de que a prioridade nunca foi o torcedor.

Piora o fato do álcool ser proibido apenas ao turista comum. Quem é amigo do emir ou tem acesso aos camarotes exclusivos pode se embriagar à vontade. É uma falsa meritocracia etílica. O neoliberalismo do pileque.

Mas, como diz o ditado, "podem cortar a cerveja, o uísque, a tequila, mas jamais conseguirão deter a bebedeira inteira". Os torcedores fazem de tudo para burlar regras tão injustas. Já foram encontradas bebidas dentro de binóculos, solas de sapatos, até sob perucas.

Outra alternativa é fazer "esquentas" em hotéis, bebendo litros de álcool para, inspirados nos camelos, garantir reserva etílica por um dia inteiro. O resultado é torcedores tentando chegar nos estádios, mas batendo com a cara na parede.

É tanto pileque clandestino que o governo qatarense desistiu de prender e criou "tendas da sobriedade" —locais para manter turistas alcoolizados até o pileque passar. Seria o local mais divertido do campeonato, se não fosse em um país que restringe a liberdade das mulheres, persegue homossexuais, pune com chibatadas e executa a torto e a direito.

É compreensível que o comediante Fábio Rabin tenha um vídeo chorando após ser detido em uma dessas tendas. Quando até a mascote da Copa, apelidado pelos brasileiros de "tapioca homofóbica", dá medo, passar horas preso em uma barraca da moralidade qatarense, ainda mais embriagado, pode ser assustador.

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