Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio

O antigo chá de sumiço ganhou uma série de novas variantes na era atual

A prática do ghosting, tradicional na paquera, tem agora versões na amizade, na vida familiar e até no mercado de trabalho

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Flávia Boggio

Nos últimos anos, o termo "ghosting" vem assombrando os solteiros que estão à procura de uma alma gêmea.

A prática, que deriva do gerúndio de "fantasma", virou até termo de dicionário. De acordo com o "Cambridge Dictionary", "ghosting" significa uma maneira de terminar um relacionamento de repente, interrompendo toda a comunicação. O outro lado da relação chega a imaginar que a pessoa morreu, mas, na verdade, ela partiu para outra, sem ao menos dar o mínimo de satisfação.

Na ilustração de Galvão Bertazzi uma garota está em pé, segurando seu aparelho celular em uma das mãos. Ela chora e seu peito está aberto e podemos ver seu coração partido. Lágrimas se esparramam pelo chão sob seus pés.  Ela está rodeadas por fantasmas por todos lados.
Galvão Bertazzi

O que parecia falta de empatia virou prática cada vez mais comum. Em tempos, quando ninguém tem mais agenda e disposição, nada mais conveniente do que simplesmente sumir, em vez de perder duas horas vendo outra pessoa chorar.

O que poucos sabem é que o "ghosting" é praticado há muitos séculos, em situações que vão bem além das amorosas.

Os australopitecos já chamavam o ato de "dar no pé", "chá de sumiço", "escafeder" ou "ele, o boto". Como termos em inglês são descolados, "ghosting" virou a palavra da moda.

No Rio de Janeiro, o "ghosting carioca" já é uma prática habitual. Qualquer cidadão local que diz "vamos marcar" ou "passa lá em casa" claramente não quer marcar coisa nenhuma. Aliás, poucos conseguiram entrar em um lar carioca.

Outro sumiço que traumatiza gerações é o "ghosting paterno". Também conhecido como "comprou um cigarro e nunca mais voltou", trata-se do ato do indivíduo do sexo masculino conceber uma criança e não assumir, não pagar pensão, não conviver, sumir.

Muitos trabalhadores sofrem do "ghosting coorporativo", praticado por gestores e funcionários do RH. O candidato faz a entrevista de emprego e ouve dos responsáveis pela vaga um "mantemos contato".

Se o entrevistador fosse muito sincero, diria "não tem condição de trabalhar com você".

Também existe o "ghosting de amizade", quando um conhecido simplesmente passa reto, fingindo que não conhece você naquela ocasião —o que poderia ser normalizado, em casos de amigos vacilões.

Há o "ghosting de carregador", quando o cabo do celular some. Ele também ocorre com isqueiros, pares de meias e tampas de caneta.

Por último, o "ghosting financeiro", do qual a maioria dos brasileiros são vítimas, quando o dinheiro simplesmente some da conta bancária, sem se despedir ou, ao menos, dar uma satisfação.

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