Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

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Flávia Boggio
Descrição de chapéu memes internet

Por que usar ghosting e shade se temos palavras melhores em português?

Para quem acha os novos termos da era digital uma grande de uma idiotice, já foi criado o termo cringe para ajudar

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A língua portuguesa já mudou bastante ao longo do tempo e continua em transformação.

Cada região, sexo, grupo social e faixa etária cria seus próprios termos e expressões. Outros, aparentemente, surgiram da cultura das redes, em especial dentro dos populares aplicativos de relacionamento.

O namoro, ou ficada, como nossos antepassados chamavam, se tornou um universo de múltiplas camadas, que confundem qualquer astrofísico. Hoje existe crush, contatinho, ficante premium e ficante platinum unlimited.

Muitos desses termos, no entanto, batizam ações praticadas antes da Idade da Pedra Polida. E possuem nomes muito melhores em português.

Ghosting, por exemplo, expressão derivada de ghost —fantasma, em inglês— é usada para o ato de uma pessoa, durante um relacionamento, simplesmente sumir, sem deixar pistas. O que poucos falam é que nossas avós já chamavam de dar no pé, chá de sumiço, saiu para comprar cigarro e nunca voltou ou "ele, o boto".

Jogar um shade, que é usado para quando se humilha alguém sem deixar claro, já era conhecido como dar uma indireta, passivo agressivo ou, como nossas avós chamavam antes, de tapa em luva de pelica.

Na ilustração de Galvão Bertazzi tem um homem de cabeça enorme, usando cartola atrás de um púlpito dando sermão debaixo de quatro holofotes que o iluminam. Ele está com a língua pra fora e uma das mãos apontando pra cima, dando lições de vida. Dois cartazes anunciam o espetáculo com os escritos "MACHO PALESTRINHA" e "MANSPLAINING"  . Uma plateia de mulheres entediadas assiste ao enfadonho show.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flávia Boggio de 19 de julho de 2023 - Galvão Bertazzi

O mansplaining, por exemplo, usado quando o homem explica algo a uma mulher sem ter solicitado é o macho palestrinha, ou homem enxerido, como diziam os incas.

Já o manspreading, que define o ato do homem ocupar um espaço maior do que deveria, como abrir as pernas ao se sentar, era chamado pelos medievais de macho folgado ou homem com caxumba.

O termo mooning, referente ao modo não perturbe do celular, usado quando alguém dá uma desaparecida, é o famoso dar um tempo, como falado pelos antigos persas.

Bropriating, que consiste na prática masculina de se apropriar de ideias de mulheres, é praticado desde os tempos dos hebreus, que chamavam de plágio mesmo, ou coisas como xerocar e kibar.

Já o zombieing, oriunda de zombie —zumbi, em português—, é utilizada para quando a pessoa que deu um ghosting, reaparece e volta a mandar mensagens, ressurgida dos mortos. É o famoso oi sumida, usado no tempo dos fenícios.

Para quem acha esses novos termos uma grande de uma idiotice, foi criado o termo cringe, que os neandertais já chamavam de pessoa presa ao passado e velho ranzinza.

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