Flávia Boggio

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Flávia Boggio

Nas férias em família, a frase 'pior não fica' dá lugar a 'até aí, tudo bem'

O BBB não nos deixa mentir, a convivência também pode ser combustível para irritação, briga e desequilíbrio mental

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

As férias de verão chegam ao fim. O que ficam são as memórias desse importante momento em que pais, filhos e familiares convivem intensamente, se descobrem e se amam.

O BBB não nos deixa mentir, a convivência também pode ser combustível para irritação, briga e desequilíbrio mental. Nem "o maior amor do mundo", como alguns pais empolgados chamam a parentalidade, é capaz de resistir.

Na esperança de que a mudança de rotina traga entretenimento para os filhos, muitos pais decidem viajar. Foi o meu caso, que, nessas férias, desci com a família para o litoral.

Na ilustra de Galvão Bertazzi temos um congestionamento. Muitos carros próximos um do outro no que parece ser uma rodovia. Montanhas ao fundo. No centro temos um carro, pelo vidro do porta malas percebe-se várias crianças amontoadas e apertadas. Uma delas está gritando. Um balão de fala sai dela e um cocôzinho sorridente está desenhando dentro dele. Todos os carros ao redor estão com o porta malas entupidos de crianças, como nos anos 80.
Ilustração de Galvão Bertazzi para coluna de Flavia Boggio - Galvão Bertazzi

O que as fotos no Instagram não mostram é que férias na praia são como na cidade, mas com mosquitos, areia, trânsito, goteira, choque no banho, cerveja quente, superlotação e travesseiro com cheiro de mofo.

Quando a família é maior que um tour da Tia Augusta, com pai, mãe, filhos pequenos gêmeos, enteada e sobrinha adolescentes, uma avó e um cachorro, como no meu caso, as coisas pioram. Pioram a ponto de a frase "pior não fica", na biografia familiar, ser trocada por "até aí, tudo bem".

Eu, que era um mãe winnicottiana, em pouco tempo, passei por uma metamorfose até me transformar em uma mãe dos anos 1980, torrada de sol, que coloca os filhos, também torrados de sol, no porta-malas com o cachorro.

Pois estávamos no carro, voltando da praia com a família, adolescentes, gêmeos e cachorros —os três últimos no porta-malas— calor, gritaria e areia. Até aí, tudo bem.

Começa a cair uma tempestade e um dos meninos anuncia: "Mamãe, preciso fazer cocô!". Olhei a tempestade e avisei: "Segura um pouquinho, que já já chegamos em casa". Até aí, tudo bem.

Meu filho avisa: "Mamãe, tô muito apertado". Eu me desespero: "Filho, vamos encostar para você fazer em um matinho". Mas ele tenta me tranquilizar: "Mãe, não precisa, já fiz o cocô".

Confusão, desespero e gritaria das adolescentes. Mas não havia formas de tirar o novo passageiro do carro. Então grito: "Aguentem aí! A gente limpa quando chegar em casa". Até aí, tudo bem.

Quando meu filho tranquiliza a família: "Pessoal, não precisa. O cachorro já comeu tudo".

Chegando em casa, estavam lá crianças e cachorros felizes. Como uma mãe dos anos 1980, virei as costas e fui para a cozinha fazer uma caipirinha.

Mas o que fica são as memórias. E até aí, tudo bem.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.