Flavia Lima.

Repórter de Mercado, formada em ciências sociais pela USP e em direito pelo Mackenzie.

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Bolsonaro está certo

Embora correto, raciocínio sobre desemprego não reflete a realidade atual

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, na última sexta (5)
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto, na última sexta (5) - Adriano Machado/Reuters

Jair Bolsonaro recentemente se insurgiu contra a taxa de desemprego. Segundo ele, o índice do IBGE não reflete a realidade brasileira. 

O presidente está certo —ainda que não pelos motivos nos quais acredita. 

De fato, os 13,1 milhões de desempregados contam apenas um pedaço da triste história relativa ao mercado de trabalho.  

Entre esses desocupados, cerca de 5 milhões de pessoas procuram emprego há mais de um ano. Desse total, mais de 60% estão há mais de dois anos sem encontrar vaga —uma preocupação adicional. Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, mais difícil é a recolocação.

Olhando apenas a taxa de desemprego, ignora-se que existam outros 14,8 milhões de pessoas que trabalham menos horas do que gostariam, não conseguem sair para procurar trabalho ou simplesmente desistiram de procurar uma vaga —os chamados desalentados. 

Descobrimos que os 4,9 milhões de brasileiros no desalento são motivo de atenção especial do presidente. 

Segundo ele, quando há uma pequena melhora no Brasil, essas pessoas passam a procurar emprego. E, como não acham, sobe a taxa de desemprego. 

​Bolsonaro mais uma vez tem razão. Se a atividade melhora, é possível que mais pessoas se animem a sair em busca de uma vaga, pressionando o desemprego por algum tempo.

O raciocínio, correto, não reflete a realidade atual.

A economia brasileira patina e, em razão disso, o número de desalentados está subindo, e não em queda —na verdade, bateu o recorde histórico na mais recente medição. 

A taxa de desemprego de fevereiro, de 12,4%, assustou bastante, não porque subiu em relação a novembro. O movimento era esperado, pois é no início do ano que as empresas fazem ajustes em seus quadros. 

O que causa apreensão é que essa taxa tenha recuado apenas 0,2 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2018. 

Na retomada econômica mais lenta da história, os dados mais recentes não trazem alívio. Em relatório, o Itaú diz que o nível atual de confiança empresarial é compatível com a criação de 20 mil empregos formais por mês, o que, por sua vez, é coerente com uma alta do PIB (Produto Interno Bruto) de apenas 0,8%. 

Como melhorar esse quadro? A resposta não é trivial. Alguns analistas recomendam novos cortes nos juros. Há quem diga que o governo precisa dar um jeito de voltar a investir.

De todo modo, não é fácil entender tamanha animosidade com os números oficiais de alguém que está há apenas três meses no poder e que, portanto, deve detalhar como pretende contornar a tragédia.

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