Glenn Greenwald

Jornalista, advogado constitucionalista e fundador do The Intercept

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Bombas que Israel lança em Gaza vêm de Biden

Apoio incondicional à guerra na Palestina é tão definidor na biografia do presidente quanto voto pró-invasão do Iraque

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Há décadas, os Estados Unidos são o país mais pró-Israel do mundo. Com a entrada do país aliado em mais uma guerra, os EUA continuam a fornecer todas as armas, bombas e o dinheiro que Israel solicita.

"Os EUA são, de longe, o maior fornecedor de auxílio militar para Israel, contribuindo com cerca de US$ 130 bilhões desde a sua fundação", afirma um relatório da Axios. Isso se deve a que "tanto as administrações republicanas como as democratas e seus líderes no Congresso aprovaram auxílios a Israel por décadas".

Binyamin Netanyahu recebe Joe Biden no aeroporto de Tel Aviv - Brendan Smialowski - 18.out.23/AFP

Não é uma hipérbole dizer que a importante superioridade militar de Israel sobre qualquer país na região se deve quase inteiramente ao apoio norte-americano. Como muitas vezes no passado, as bombas que Israel lança agora sobre hospitais, escolas, mesquitas, ambulâncias e edifícios residenciais em Gaza são fornecidas diretamente pelo governo dos EUA.

Quase imediatamente após o massacre perpetrado pelo Hamas no interior de Israel em 7 de outubro, os EUA anunciaram que forneceriam todo o necessário para que Israel pudesse promover a guerra em Gaza. Não houve, como há décadas se repete em Washington, praticamente nenhuma divergência entre os líderes dos dois partidos.

Não é uma surpresa que os EUA sejam apoiadores ferozes de Israel, uma vez que Joe Biden é o atual presidente do país. A capital americana, em ambos os partidos, está repleta de apoiadores radicais do país, mas nenhum político tem sido tão consistente e inflexível em sua defesa de Israel como Joe Biden. Por mais de 50 anos na vida política, ele vem sendo um dos principais líderes dos esforços para garantir apoio ilimitado e incondicional a Israel.

Em 1986, Biden fez um discurso no Senado no qual desprezou seus partidários que questionavam os bilhões de dólares enviados todos os anos a Israel. "Já é hora", disse o futuro presidente, "de deixarmos de pedir desculpas pelo nosso apoio a Israel". Ele continuou: "É o melhor investimento de US$ 3 bilhões que podemos fazer. Se não houvesse Israel, os EUA teriam de inventar Israel".

Como vice-presidente de Obama, Biden foi uma influência crucial na política externa norte-americana —e a administração Obama foi pelo menos tão pró-Israel quanto a administração Bush, que a precedeu. Antes da atual invasão e do bombardeio de Gaza neste ano —onde, até agora, 14 mil palestinos foram mortos, segundo as últimas estimativas das Nações Unidas—, a ofensiva mais agressiva contra Gaza havia sido em 2014.

Na ocasião, tanto Obama quanto Biden defenderam o que chamaram de "direito de autodefesa de Israel", e Obama forneceu a Israel as bombas lançadas em Gaza. O bombardeio, de acordo com a ONU, matou 1.462 civis: 551 eram crianças. Aquela campanha feriu ainda outras 7.000 crianças e mulheres, "dez por cento das quais tiveram sequelas permanentes". Mais de 1.500 crianças de Gaza ficaram orfãs.

Pouco depois do segundo aniversário do bombardeio em Gaza, Obama e Biden —em um de seus últimos atos antes de deixar a Casa Branca— assinaram um acordo com o primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu para fornecer ao país a quantia recorde de US$ 38 bilhões em auxílio militar durante dez anos. O assessor de Obama/Biden para o Oriente Médio, Dennis Ross, afirmou: "[o acordo] mostra que o apoio a Israel é bipartidário".

Onze dias após o ataque do Hamas, Biden voou para Israel, abraçou Netanyahu e disse aos líderes israelenses: "Eu venho a Israel com uma mensagem simples: vocês não estão sozinhos". Dias depois, Biden solicitou ao Congresso uma autorização para mais US$ 14 bilhões para financiar a guerra de Israel em Gaza.

Os porta-vozes de seu governo repetiram que o apoio de Biden a Israel é incondicional e que não há "linhas vermelhas": nada do que Israel faça em Gaza pode comprometer o apoio americano. Biden até chegou a elogiar as invasões militares de Israel aos hospitais de Gaza.

Nesta semana, um antigo conselheiro de Obama, o pró-Israel Stuart Seldowitz, foi preso por perseguir vendedores ambulantes árabes em Nova York com insultos racistas. Em uma entrevista no início deste mês, Seldowitz disse que até os israelitas de direita estavam muito felizes por Biden ser tão absoluto no seu apoio à guerra israelita.

Em 2002, Biden, presidindo o Comitê de Relações Internacionais do Senado, foi um dos senadores democratas mais influentes a apoiar a votação que autorizou George W. Bush a invadir o Iraque. Por muitos anos, aquele episódio pareceu ser um dos mais definidores da sua biografia política.

Agora, o apoio ilimitado e incondicional à guerra de Israel em Gaza, já em sua sétima semana, será certamente lembrado como um episódio tão importante —e tão consequente— quanto aquele.

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