Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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Gregorio Duvivier

Muito em breve, o bolsonarista voltará a ser aquilo que ele tanto odeia: uma minoria

Uma derrota de Bolsonaro no primeiro turno prova que o Brasil não é um país fascista ou fisiológico

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Muita gente desconfia dos institutos de pesquisa porque olha pro lado e só vê bolsonaristas. Como é que pode Lula ganhar no primeiro turno se estou cercado de bolsonaristas por todo lado? Olha, se você está cercado de bolsonaristas por todo lado, o problema não é com o instituto de pesquisa. O problema é com você. Tem que rever esse círculo de amizades.

No mais, por aqui estou cercado de lulistas por todos os lados —dentre eles, pessoas que nunca, em toda a vida, tinham votado no Lula. Sabe o que isso significa? Nada. Em 2018 eu estava cercado de ciristas por todos os lados. Sabe o que isso significou? Nada. Ou melhor, significou 12% das intenções de voto.

A imagem da cabeça de bolsonaro, em preto e branco, é sobreposta por um colorido "POW!", em um balão de quadrinho formado por uma estrela vermelha.
Ilustração de Catarina Bessel para coluna de Gregorio Duvivier - Catarina Bessel

Todas as pesquisas sérias indicam que estamos muito perto de dar tchau pra Bolsonaro. Sabe o que isso significa? Muita coisa. Nunca nenhum presidente nesse país perdeu uma reeleição. Quanto mais no primeiro turno. Quanto mais com orçamento secreto e uso da máquina pública pra fazer comício. Não
importa. Nada disso fez cosquinha nas intenções de voto.

Bolsonaro fez com que muita gente odiasse o brasileiro — inclusive dentro do Brasil. Vi compatriotas amaldiçoarem nosso povo em 2018, como se fôssemos naturalmente fascistas e propensos ao ódio. Uma vitória no primeiro turno dá um recado pro mundo e pra nós mesmos. O Brasil pode ter flertado com o fascismo mas logo percebeu que estava num relacionamento tóxico —e soube enxotar o panaca enquanto era tempo. Demoramos uns 600 mil mortos, mas, ao que parece, percebemos.

Muita gente séria apostava numa conversão do povo ao bolsonarismo na reta final por causa do auxílio. Uma derrota no primeiro turno prova que o povo, mesmo com fome, não se deixa comprar. Cala a boca inclusive de quem defendia que o voto em Lula era um "voto de cabresto", por causa do Bolsa Família. O fracasso do auxílio em comprar votos mostra que o povo é muito mais inteligente do que acreditavam os analistas —e o próprio Bolsonaro.

Uma derrota de Bolsonaro no primeiro turno prova que o Brasil não é um país fascista ou fisiológico. Ao contrário: odiou o flerte com o fascismo, rejeita a compra de votos. E quer enterrar esse cadáver que exumou.

É claro que a luta não acabou. Bolsonaro continua com 37% do eleitorado —que já é muito mais do que ele merece. Precisamente 37% a mais do que ele merece.

O que importa é que, muito em breve, o bolsonarista voltará a ser aquilo que ele tanto odeia: uma minoria.

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