Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.

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Zezé Di Camargo pode virar a casaca se Lula vencer Bolsonaro nas eleições

Os sertanejos agem como o centrão da MPB e, assim como o centrão da política, tendem a estar sempre do lado ganhador

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O cantor Zezé Di Camargo vem se destacando nos últimos anos como ardoroso fã do presidente Bolsonaro. Embora não tenha defendido o fechamento do STF, como com frequência faz o mandatário fascista, Zezé foi um entusiasta do voto impresso, fez lives com o Bolsonaro e publicou muitas postagens simpáticas ao presidente.

Apesar da simpatia de muitos sertanejos por Bolsonaro, a verdade é que, mais do que seguidores de ideologias direitistas, os sertanejos são governistas. Os sertanejos agem como o centrão da música popular brasileira e, assim como o centrão da política, tendem a estar sempre do lado ganhador, seja este qual for. E, como se diz no mundo político, o centrão pode segurar o caixão até a beira da cova, mas não se enterra com o morto.

Hoje com 60 anos recém-completos, Zezé Di Camargo surgiu para o grande público em 1991, quando lançou seu primeiro LP ao lado do irmão Luciano. O disco tinha "É o Amor", o maior sucesso de sua carreira. Do dia para a noite, Zezé se tornou personagem a figurar entre os principais nomes da música sertaneja.

Era o governo Collor e muitos sertanejos viam com simpatia o presidente. A ponto de visitarem o governante na sua residência não oficial, a Casa da Dinda, em março de 1992. Foi quando o apresentador Gugu Liberato levou vários sertanejos para prestar apoio ao presidente, que já balançava no cargo. Collor cairia em setembro daquele ano.

Anos mais tarde, Zezé explicou, no programa Roda Viva, da TV Cultura, por que aceitou se encontrar com Collor: "Existia, e existe até hoje, um preconceito muito grande em cima da música sertaneja. Aquilo para nós, artistas sertanejos, que nos sentíamos diminuídos por grande parte da imprensa e da crítica, foi uma glória saber que o presidente da República, o maior mandatário da nação, gostava de música sertaneja, que fazia suas festas regadas a música sertaneja! Participamos, cantamos, ficamos felizes de saber que o presidente gostava de música sertaneja. E faríamos de novo se um presidente chamasse a gente!"

O presidente seguinte também contou com apoio de Zezé. O cantor goiano participou com o irmão da posse de Fernando Henrique Cardoso, ao lado de artistas como Daniela Mercury, Dominguinhos, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Depois de oito anos de governo FHC, Zezé se sintonizou com os ares de mudança via PT. Ele subiu no palanque petista em vários showmícios e cedeu sua música "Meu País" como jingle da candidatura de Lula em 2002.

Trata-se de uma das mais radicais composições políticas de Zezé, que aborda justamente o tema da reforma agrária: "Se nessa terra tudo que se planta dá/ Que é que há, meu país?/ Tem alguém levando lucro/ Tem alguém colhendo o fruto/ Sem saber o que é plantar/ Tá faltando consciência/ Tá sobrando paciência/ Tá faltando alguém gritar".

A relação com Lula era de fato muito próxima, como contou Zezé em recente entrevista a Leo Dias: "Ele foi na minha casa, eu fui ao Palácio do Planalto, ele fez almoço em homenagem ao meu pai, a gente cantou uma música no filme dele, [ficamos] muito próximos".

Em 2010 Zezé estava ao lado da presidente Dilma, em quem votou. Foi durante o mandato da sucessora de Lula que Zezé reafirmou sua simpatia ao petismo, na entrevista do Roda Viva já citada: "Assim que teve o mensalão, o pessoal veio me perguntar: ‘Você não acha que errou em votar no Lula?’ Eu falei: ‘Eu votei nele e votaria de novo. Se tivesse errado, eu não teria errado sozinho... Teria mais 38 milhões de pessoas que erraram junto comigo’".

Pouco tempo depois, Zezé se desiludiu. Em 2014, ele votou em Aécio, para quem cantou o jingle de campanha ao lado da filha Wanessa: "Um novo Brasil pra gente/ Decente, maduro…". Em uma recente entrevista a Leo Dias, Zezé ponderou: "Na campanha do Aécio, eu o apoiei porque queria uma mudança e, infelizmente, ele acabou não ganhando. Depois teve todos aqueles escândalos –que eu não tenho o poder de dizer se aquilo tudo aconteceu, porque tem muita politicagem".

Em 2016, Zezé apoiou o impeachment de Dilma e elogiou Eduardo Cunha. Em 2018 o cantor caiu de amores por Bolsonaro. Ainda no primeiro turno, Zezé visitou o então candidato em sua residência na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, deixando-se fotografar e filmar. Um dia antes do primeiro turno, o candidato Bolsonaro publicou uma live ao lado de Zezé na qual o goiano disse: "Não se esqueçam: nossa bandeira é verde e amarela, não é vermelha não, gente!".

Ao que tudo indica Zezé votará em Bolsonaro novamente. Em caso de uma provável vitória de Lula, não é impossível que ele vire a casaca, dado o seu histórico governista. Quando se tornou antigovernista, Zezé mudou sempre acompanhando os grandes fluxos eleitorais das massas brasileiras. Resta saber até onde Zezé está disposto a ir com Bolsonaro derrotado.

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