Mais uma chacina em escola nos EUA e, mais uma vez, os norte-americanos põem-se a debater o controle de armas. Arrisco prognosticar que, mais uma vez, nada significativo vai acontecer. Que diabos ocorre nos EUA?
Muita gente gosta de culpar a Constituição, cuja segunda emenda proíbe o governo de infringir o "direito do povo de guardar e portar armas". De fato, nos EUA, uma restrição forte como a prevista no nosso Estatuto do Desarmamento seria quase certamente considerada inconstitucional. Mas a Suprema Corte dali já se pronunciou diversas vezes sobre a segunda emenda e declarou que o direito às armas não é ilimitado e pode ser regulamentado tanto em nível federal como local.
A maioria da população também é favorável a controles um pouco mais rígidos. Por que então ainda não se aprovou uma lei nacional para pelo menos impedir que pessoas com histórico de doença mental comprem fuzis de assalto?
A resposta, acredito, está no poderoso lobby pró-armas dos EUA, que gasta dezenas de milhões de dólares em cada ciclo eleitoral para financiar campanhas de candidatos simpáticos à causa.
O que me espanta é que sejam sempre os massacres, que não costumam produzir mais de algumas centenas de mortes por ano, que levam os americanos a discutir a questão do controle, e não as estatísticas do dia a dia, pelas quais armas de fogo tiram a vida de 13 mil americanos por ano, sem contar os suicídios à bala, que chegam ao dobro desse número.
Pior, é discutível se um controle mais restrito seria capaz de evitar massacres metodicamente planejados —na Europa, terroristas não tiveram dificuldade em encontrar outros métodos—, mas é certo que o acesso mais difícil a armas reduziria os óbitos decorrentes de impulsividade, que são a maior parte. Definitivamente, seres humanos temos dificuldades para pensar com método.
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