O que é legítimo publicar em casos chocantes como o massacre de Suzano e o ataque às mesquitas na Nova Zelândia? Valem fotos fortes? Os nomes dos perpetradores devem ser divulgados ou mantidos em sigilo, para não incentivar imitadores? E o manifesto do terrorista australiano? É notícia ou sandice?
O tema, difícil, foi objeto da coluna dominical da ombudsman Paula Cesarino Costa. Leitores invariavelmente se queixam de fotografias mais sangrentas. Penso que isso é um problema para as edições impressas, mas não para as digitais. Um jornal não deve estragar o café da manhã de seus assinantes submetendo-os a imagens que eles talvez não queiram ver. Mas, “in silica”, é sempre possível fazer com que as fotos sejam precedidas de um alerta sobre a natureza brutal das imagens. Aí só clica quem quiser.
Não vejo como distinguir teoricamente informações transmitidas por letras ou por fótons. Se o conteúdo é verdadeiro, relevante e não vai pegar ninguém desprevenido, não deve ser censurado.
Vale lembrar que uma das múltiplas funções dos órgãos de imprensa é servir como um arquivo razoavelmente confiável sobre o qual historiadores do futuro poderão trabalhar. Diante dessa missão, deixar de publicar os nomes dos envolvidos e mesmo o manifesto com os delírios do terrorista representaria um crime contra a historiografia.
Entendo a preocupação de acadêmicos e associações que temem o efeito-contágio da divulgação desse tipo de informação. É importante que os jornais façam tudo o que puderem para dificultar a glamurização dos ataques e seus autores, mas não devemos perder as coisas de perspectiva. Mais de 99% das pessoas que se deparam com esse noticiário têm a saudável reação de rejeitar enfaticamente as ações e ideias dos perpetradores. O 1% restante já tinha um problema sério bem antes de ver as fotos ou ler as reportagens —e não serão os jornais que irão resolvê-lo.
helio@uol.com.br
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