Comento hoje o caso Caster Semenya, a corredora sul-africana que teve confirmado pela Corte Arbitral do Esporte seu banimento das provas de atletismo entre 400 m e 1.600 m —mas não das de 100 m e 200 m nem das corridas mais longas— por apresentar níveis de testosterona considerados elevados.
Semenya é intersexual, o que significa que ela produz naturalmente mais hormônios androgênicos. A atleta não se valeu de doping nem é um homem que decidiu mudar de sexo, o que poderia alterar os termos da discussão.
Esporte de alto rendimento é basicamente genética favorável e preparo. Mas como, nas categorias mais competitivas, o preparo dos atletas é sempre levado até seus limites máximos, são as diferenças genéticas que acabam prevalecendo.
Não estamos falando de pouca coisa. As diferenças entre um maratonista de elite, que completa a prova em cerca de duas horas, e um amador que leva o dobro desse tempo aparecem em múltiplos níveis, do formato do corpo, à capacidade aeróbica, passando por perfil metabólico e tipo de fibra muscular predominante. Um biólogo alienígena que chegasse à Terra talvez os classificasse como de espécies diferentes.
Apenas engatinhamos no conhecimento dessas características e dos genes que as determinam. Cada esportista é um indivíduo único com uma combinação específica de parâmetros fisiológicos. Damos tanta atenção à testosterona porque é um hormônio que sabemos dosar e cujos efeitos na performance atlética são conhecidos, mas ela não difere em essência de tudo o que não sabemos nem conseguimos medir.
É possível que, no futuro, nem seja preciso disputar as provas. Com uma amostra de DNA, traçaremos o mapa genético do “atleta” e apontaremos o campeão. Enquanto isso não acontece, parece-me uma injustiça excluir uma competidora só porque ela nasceu produzindo níveis mais altos do parâmetro que nos é um pouco menos misterioso.
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