Nos últimos dias, as duas principais lideranças políticas do país, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deram mostras de que são incapazes até de pensar a questão da Venezuela com um mínimo de equilíbrio.
Bolsonaro, por ter poder, fez pior. Ele prepara a expulsão de 17 funcionários venezuelanos que ocupam postos diplomáticos no Brasil, o que significa, pelo princípio da reciprocidade, que os brasileiros que se encontram na representação em Caracas também terão de sair.
Até dá para vislumbrar o que Bolsonaro pretendia com isso. Assumir tons histéricos quando fala mal de Nicolás Maduro sempre rende pontos junto à claque de extrema direita do presidente. Ele também deve ter imaginado que o teatrinho agradaria a Donald Trump.
O problema é que a medida, que fica só um pouco aquém de um rompimento de relações, não tem efetividade para enfraquecer o regime de Maduro e, concretamente, apenas prejudica os interesses do Brasil. A ala sensata do Itamaraty ficará com as mãos ainda mais amarradas em relação à Venezuela, e os brasileiros que vivem naquele país terão mais dificuldade para obter serviços consulares de que precisem.
Já Lula, numa entrevista ao UOL, louvou virtudes democráticas de Nicolás Maduro. Vários adjetivos podem ser apostos ao dirigente venezuelano, mas "democrata" não é um deles. O regime por ele capitaneado, que já vinha numa escalada autoritária, se tornou uma ditadura escancarada em 2017, quando tomou medidas para se livrar do Legislativo em que a oposição era majoritária.
Se, como sugeriu Lula, basta um líder ter sido eleito segundo regras democráticas para depois fazer tudo o que quiser, precisaríamos colocar Adolf Hitler na lista dos democratas.
Muito da posição dos dois políticos se explica pelos altos níveis de polarização. E o problema da polarização é justamente que ela empurra as pessoas para ações irracionais.
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