Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu jornalismo

Limites da manipulação

Quando a coisa aperta, é à imprensa profissional que a sociedade recorre

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Até onde você iria para eleger seu candidato? Sempre polêmico, o filósofo Sam Harris deixou a mídia de direita indignada ao afirmar que a grande imprensa teria agido bem se tivesse escondido podres de Joe Biden para evitar que Donald Trump fosse reeleito.

Embora Harris seja um realista moral, isto é, sustente que existem verdades morais, e eu não vá tão longe, ambos bebemos do consequencialismo, a ideia de que ações devem ser consideradas boas ou más com base em seus resultados, não em princípios deontológicos abstratos.

Joe Biden na cerimônia de posse, em janeiro de 2021 - Andrew Caballero-Reynolds - 20.jan.2021/AFP

Assim, concordaria em gênero, número e caso com Harris se julgasse que Trump (ou seu similar brasileiro) representa o mal absoluto (penso que ele é péssimo, mas ainda não o Armagedom) ou se estivéssemos tratando de uma interação única, isto é, se imprensa, eleitorado e candidatos se encontrassem uma só vez para definir um pleito e nunca mais se relacionassem. Nesse caso, o acobertamento midiático teria reduzido o volume de mal no mundo e fim da história.

O problema é que não estamos num cenário desses, mas num de múltiplas interações, o que muda a lógica do jogo. Imprensa, eleitorado e candidatos (ou outros representantes das mesmas correntes políticas) não desaparecem depois de cada pleito, mas voltam a interagir em eleições subsequentes. Aí, ações do passado cobram seu preço. Se a mídia é percebida como um agente que não hesita em manipular pleitos para atender a seus interesses (o que é diferente de errar de boa-fé), ela passa a ser vista como não confiável e perde relevância. Detalhe importante, o custo de mentir é maior para a imprensa do que para políticos.

Embora estejamos passando por um período meio solipsista, no qual as pessoas curtem ficar presas a suas bolhas argumentativas, a pandemia mostrou que, quando a coisa aperta, é à imprensa profissional que a sociedade recorre para obter informação confiável. Discordo, portanto, de Harris.

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