Lula e aliados vêm aumentando a pressão sobre os eleitores de Ciro e Tebet para que eles abracem o voto útil e assegurem a vitória do petista já no primeiro turno. O que estaria em jogo é a própria democracia.
Eu estou convencido de que Bolsonaro representa não só um risco institucional como também civilizacional e confesso que torço para que sua derrota seja a mais humilhante possível. Não vejo, porém, como afirmar que exista, para os democratas, a obrigação moral de eleger Lula já no próximo dia 2.
A primeira parte de meu argumento é estatística. Bolsonaro receberá dezenas de milhões de votos. Penso que seus eleitores estão equivocados, mas hesitaria em classificá-los todos como antidemocratas. Aliás, se esse fosse o caso, já não haveria no país democracia a defender.
Obviamente, se nem os bolsonaristas são todos contra a democracia, os ciristas e tebetistas também não devem ser colocados nessa categoria. Sugerir o contrário contribui mais para acirrar as divisões do que para pacificar o país.
Também não estou muito certo de que antecipar a derrota de Bolsonaro diminua o risco de sabotagem ao processo eleitoral. É verdade que o presidente da República teria mais facilidade para gritar "fraude" numa disputa que envolva apenas ele, Lula e parte dos governadores (2º turno) do que numa em que fazê-lo colocaria em dúvida também a legitimidade de todos os parlamentares eleitos (1º turno). Mas esse não é o único cenário de perigo.
Perder por um punhado de votos em qualquer turno também o estimularia a contestar o resultado, e, se Lula levar no primeiro, quase certamente será por margem estreita. No mais, perca no primeiro ou no segundo escrutínio, Bolsonaro fica no cargo até 31/12. Nesse interregno, deverá espernear e plantar armadilhas para o sucessor.
O importante para a democracia é que Bolsonaro não seja reeleito. Se isso vai ocorrer no começo ou no fim de outubro, é secundário.
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