A menos que as pesquisas eleitorais estejam muito erradas, Jair Bolsonaro deve sofrer uma fragorosa derrota nas urnas. A dúvida é se a queda será sacramentada já ou se será necessária a votação do dia 30. Em qualquer hipótese, ele permanece no cargo até 31/12/2022, o que exigirá de nós muita atenção, pois, embora as chances de um golpe exitoso pareçam remotas, é bastante provável que ele aposte na confusão e também tente plantar armadilhas para seu sucessor.
Os otimistas poderão proclamar que não apenas as instituições funcionaram como também que houve aprendizado democrático. Em 2018, os brasileiros elegeram alguém totalmente despreparado para exercer o cargo máximo do país, mas perceberam seu erro e o consertaram quatro anos depois.
Minha visão é menos benigna. É verdade que as instituições foram capazes de evitar uma ruptura constitucional. Mas elas sofreram enorme desgaste ao longo dos últimos quatro anos e é razoável afirmar que só resistiram porque houve mobilização de setores influentes da sociedade civil e da comunidade internacional. Sem isso, a história poderia ter sido diferente.
Mais importante, mesmo admitindo que o conceito de culpa coletiva é complicado, para dizer o mínimo, acho que dá para afirmar que nós, como sociedade, fracassamos moralmente ao não afastar Bolsonaro pela via do impeachment. Elementos jurídicos para fazê-lo começaram a se acumular desde o início do mandato, mas foi seu desempenho na epidemia que transformou o afastamento num imperativo moral. Ali, ele não apenas deixou de cumprir com sua obrigação de proteger a população como contribuiu ativamente para piorar a situação sanitária, sabotando a vacinação e o distanciamento social e propagandeando curas inexistentes.
Não ter usado os remédios constitucionais para nos livrar de um governante desses é uma nódoa que teremos de carregar. Ao não tê-lo afastado, nós o normalizamos.
helio@uol.com.br
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.