Consolidou-se na mitologia política nacional a ideia de que prefeitos, para serem reeleitos, precisam criar uma marca própria. Isso seria especialmente verdade para alcaides de grandes cidades que herdaram o cargo, caso de Ricardo Nunes, que comanda o Executivo paulistano.
A moda, creio, teve início com Gilberto Kassab, que, em 2006, sancionou a Lei Cidade Limpa, que praticamente baniu os outdoors do município de São Paulo. O feito lhe teria garantido a reeleição para o cargo que recebera pela renúncia de José Serra e ainda um terceiro mandato.
Nunes quer instituir o ônibus grátis na cidade e transformá-lo em sua marca.
De um modo geral, sou um entusiasta do realismo tarifário. Preços carregam informações importantes sobre a disponibilidade dos bens e serviços a serem consumidos.
No caso específico do transporte público, porém, não penso que caiba o realismo tarifário. Para o trânsito fluir, é preciso que seja mais barato e mais confortável usar o transporte público do que o carro particular e outras alternativas. Isso obviamente requer algum nível de subsídio. A discussão, portanto, diz respeito ao nível desses subsídios.
Imagino, assim, que a Prefeitura possa encontrar uma fórmula financeiramente viável de estabelecer a gratuidade. Seria uma marca eleitoralmente forte. No mérito, porém, não acho que seja uma boa ideia.
Vejo nela dois problemas. O transporte público não é a principal carência da cidade. Temos problemas sérios de financiamento em saúde, por exemplo. Com um Orçamento finito, volumes maiores destinados a uma rubrica significam menos dinheiro para outras áreas.
A gratuidade também cria um estímulo ao uso fútil. Sem custo individual, as pessoas usariam o ônibus para tudo, o que é ruim para o sistema (os coletivos ficam mais cheios, mais lentos e o custo aumenta).
Trocando em miúdos, dada a natureza humana, o transporte barato é preferível ao gratuito.
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