Se o problema não tem solução, então não é um problema. Essa frase, uma das favoritas de gurus da autoajuda, tem um problema. Ela não é verdadeira, ao menos não em todas as instâncias. A guerra na Ucrânia, prestes a completar um ano, é um bom exemplo disso. Até dá para imaginar desfechos para o conflito, mas eles são tão ruins que fica difícil chamá-los de "soluções"; não obstante, a guerra continua sendo um enorme problema.
A esperança inicial de Vladimir Putin era lançar um ataque tão contundente que faria o governo ucraniano de Volodimir Zelenski ruir. Putin poderia então anexar à Rússia a porção do território ucraniano que desejasse e instalar um governo-títere no país vizinho. O que vimos, porém, foi um dos mais vexatórios episódios de despreparo militar. Os russos não só não conseguiram subjugar os ucranianos como ainda, em diversas ocasiões, pareceram estar levando uma surra dos vizinhos, mais motivados e recebendo ajuda maciça do Ocidente em equipamentos.
Essa, porém, não é uma situação que possa prolongar-se indefinidamente. A Rússia tem uma população três vezes maior que a da Ucrânia e muito mais recursos bélicos. Numa guerra de atrito, o tempo joga a seu favor. A ajuda ocidental à Ucrânia também não será eterna. É difícil crer que, dentro de cinco ou sete anos, EUA e Europa seguiriam apoiando Kiev com a mesma generosidade.
Nesse contexto, a ideia do presidente Lula de que o conflito precisa ir para a mesa de negociações não soa absurda. O nó a desatar, porém, é dos mais difíceis. Depois de ter sacrificado dezenas de milhares de soldados, Putin não pode voltar com menos do que tinha no início da guerra. E a Ucrânia tem todos os motivos para não querer ceder território. O Ocidente também se veria em dificuldades, morais e reputacionais, se coonestasse uma negociação que recompensasse o autor de uma guerra de agressão no meio da Europa e em pleno século 21.
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