Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Livro recorre a germes para explicar grandes eventos da história

Para o autor, não foram legiões as principais linhas de defesa de Roma contra bárbaros

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Comento hoje "Pathogenesis", de Jonathan Kennedy. Embora o título evoque um aborrecido compêndio médico, trata-se de um fascinante livro de história. A tese de Kennedy é simples. Diferentemente do que sugeriu Carlyle, não são as ações de "grandes homens", como Maomé e Napoleão, que melhor explicam os rumos da história, mas as intervenções de agentes bem mais modestos, os germes patogênicos.

Ao longo de oito capítulos, o autor recorre às doenças transmissíveis para iluminar grandes transições. Ele começa no começo, isto é, no Paleolítico. Para Kennedy, é provável que sejam os patógenos que o Homo sapiens levou da África, cujo clima mais quente favorecia a proliferação de vírus e bactérias, para a Europa os responsáveis pela extinção do homem de Neanderthal e outros hominínios. É especulativo, mas faz sentido, especialmente quando se considera que os neandertais também dispunham de pensamento simbólico, característica que já julgamos exclusiva de nossa espécie.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 21 de maio de 2023, mostra dois personagens em um campo verde sob o céu azul. O que se encontra do lado esquerdo do quadro está agachado, segurando uma pedra na mão esquerda; ele tem as feições de um homem de Neandertal e usa uma “saia” marrom de pele de animal. Ele olha em direção ao outro personagem, do lado direito, que está em pé, postura ereta, portando uma lança na mão esquerda. Ele tem a fisionomia de um homo sapiens e veste “saia”,  “colete” e “botas” de pele cinzas. Sob seu corpo e ao redor, vemos pequenas partículas voadoras coloridas que representam vírus e bactérias que o Homo sapiens levou da África para a Europa, e teriam sido responsáveis pela extinção do homem de Neandertal e outros hominínios.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman publicada neste domingo (21/5) na versão impressa da Folha - Annette Schwartsman

Segundo o autor, não foram as formidáveis legiões as principais linhas de defesa de Roma contra os invasores bárbaros. Quem desempenhou esse papel foram diarreias variadas e a malária. A cidade mais prodigiosa do Universo estava tomada por essas pragas. Qualquer romano que tivesse sobrevivido à infância tinha defesas pelo menos parciais contra elas, mas os bárbaros, não. É nessa toada que Kennedy visita fenômenos como a expansão do islamismo, a passagem do feudalismo para o capitalismo, a escravização dos africanos e o colonialismo.

Sempre que autores trazem uma nova ordem de explicação para fenômenos tão díspares, correm o risco de superestimar a força de suas premissas. Não penso que Kennedy esteja imune a esse efeito. Mas ele traz, com graus variados de apoio fático, hipóteses que merecem reflexão e, ainda que com algum desconto, podem ser incorporadas a nosso entendimento de grandes eventos da história.

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