Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu câncer medicina

Tratando o exame

Estudo mostrou que apenas um terço de drogas contra o câncer comprovou aumentar a sobrevida de pacientes

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São Paulo

Reportagem de Cláudia Collucci com base em estudo publicado em The Lancet mostrou que só um terço das drogas contra o câncer aprovadas pela FDA entre 2001 e 2018 conseguiu demonstrar que aumentam a sobrevida dos pacientes, que é o que se espera de tratamentos oncológicos.

Os quimioterápicos foram licenciados pela agência americana com base em desfechos secundários, coisas como redução do tamanho dos tumores ou tempo sem recidiva, já que os dados de sobrevida geral levariam anos para aparecer. Em tese, os laboratórios deveriam prosseguir com os estudos e atualizar as bulas à medida que as informações fiquem disponíveis.

Mulher faz exame de mamografia - Enrique Castro-Mendivil/Reuters - Enrique Castro-Mendivil/REUTERS

Há lógica na estratégia da FDA. Eu diria que ela é inafastável, se se quer acelerar o processo de licenciamento. É difícil até imaginar como uma droga anticâncer poderia aumentar a sobrevida sem produzir alguns dos desfechos secundários que foram medidos, mas daí não se segue que obtê-los resulte em maior sobrevida. Os médicos têm uma expressão para esse tipo de situação, que é "tratar o exame", em oposição a tratar o paciente.

Tome-se o caso da vitamina D. Virou moda dosá-la em exames de rotina e entrar com a suplementação caso ela esteja baixa. Só que isso não faz muito sentido. As doenças provocadas pela deficiência de vitamina D, como o raquitismo e a osteomalácia, nunca tiveram incidência populacional tão baixa. E só grupos muito específicos de pacientes, como renais crônicos, extrairiam algum benefício da suplementação. Criou-se uma verdadeira indústria de fazer e tratar exames.

Algo parecido vale para as drogas contra o câncer, mas com uma diferença. O sujeito com baixa vitamina D não se vê como um doente cuja vida depende de um tratamento específico. Já o paciente de câncer com frequência aposta tudo numa nova droga. É tênue a linha entre não destruir todas as esperanças de um doente e vender-lhe falsas ilusões, que podem custar fortunas.

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