Há duas semanas, uma das construções mais precisas e bem-sucedidas de toda a ciência ficou órfã. Estamos falando do modelo padrão da física de partículas, e de Steven Weinberg, um de seus principais arquitetos, morto no dia 23 de julho, aos 88 anos.
Apesar do nome modesto, o modelo padrão é bem espetacular. Os últimos tijolos foram colocados no início dos anos 1970, e desde então, quase 50 anos depois, não temos muita ideia de como acrescentar algo a ele.
Todos os experimentos científicos já feitos têm seus resultados explicados pelo modelo, direta ou indiretamente. Isso leva em conta mesmo as chamadas ‘ciências especiais’, como a química e a biologia, já que são compatíveis, e até embasadas, com ele.
Não é exagero dizer que o modelo padrão, incluindo a relatividade geral de Einstein, resume o nosso conhecimento da física fundamental. As leis da física subjacentes à vida cotidiana são completamente compreendidas, e cabem numa equação. E foi Weinberg quem mais contribuiu à essa equação.
Mas não foi só isso que ele fez. Se as diferentes disciplinas de física são como línguas, Weinberg foi um dos seus maiores poliglotas. Quando seu livro, "Gravitação e Cosmologia", foi publicado em 1972, a física de partículas e a cosmologia eram consideradas assuntos distintos, com diferentes culturas e comunidades.
Depois que Weinberg derrubou as barreiras com suas traduções, uma nova geração prosperou na zona de fronteira. Contudo, se suas incursões em gravitação e cosmologia deixaram marcas profundas, também estabeleceram controvérsias que persistem até hoje.
Por exemplo, ele exortou físicos a compreenderem a teoria de gravitação de Einstein instrumentalmente, somente como objetos matemáticos com certas propriedades algébricas. Por outro lado, Einstein descobriu a sua famosa teoria por uma via geométrica: uma abordagem mais intuitiva, visualizável, e, em minha opinião, infinitamente mais rica.
Mas talvez isso seja só uma questão de estética. Em sua eulogia, o famoso físico Americano Frank Wilczek faz uma comparação com gosto musical: Weinberg era metódico e acadêmico, e não inventivo e disruptor, como Einstein e Feynman (outro famoso físico americano). Se Einstein e Feynman evocam Mozart e Beethoven, Weinberg evoca Bach.
Weinberg chegou a escrever ótimos livros para o público leigo. Apesar disso, ao meu ver, nunca conseguiu resumir para uma audiência leiga o gran motif que ele explorou para fazer suas descobertas em física de partículas.
Refiro-me às chamadas "teorias de calibre (gauge theories)", o "pão com manteiga" do físico de partículas. Apesar da importância dessas teorias, e ao contrário de suas primas mais famosas, como a mecânica quântica e a relatividade, raramente são destrinchadas para o público geral.
Na próxima coluna, em homenagem a Weinberg, me coloco o desafio de transcrever este tema de sua obra: de destrinchar, para o público leigo, o cerne das teorias de calibre. Este é o máximo que consigo oferecer como réquiem para o grande homem.
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