Igor Patrick

Jornalista, mestre em Estudos da China pela Academia Yenching (Universidade de Pequim) e em Assuntos Globais pela Universidade Tsinghua

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2024 tem tudo para ser um ano de aproximação entre Brasil e China

Após período traumático sob Bolsonaro, relação de Lula e Xi tende a se aprofundar, com vantagem para ambos os lados

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Se 2023 ficará marcado como o ano da reaproximação entre Brasil e China após quatro anos traumáticos sob a batuta de Jair Bolsonaro, 2024 tem tudo para se tornar aquele em que os países aprofundarão ainda mais a relação bilateral.

O presidente Lula e o líder da China, Xi Jinping, durante conferência em encontro no Brics na África do Sul
O presidente Lula e o líder da China, Xi Jinping, durante conferência em encontro no Brics na África do Sul - Marco Longari - 24.ago.23/AFP

No ano que vem Brasília e Pequim comemoram 50 anos de retomada de contatos diplomáticos, com o reconhecimento formal da República Popular da China como única representante do povo chinês.

Explico: como a grande maioria dos países, o Brasil rompeu com a China logo após a guerra civil que deu a vitória aos comunistas em 1949. Por décadas, o contato diplomático ficou restrito aos líderes nacionalistas do Kuomintang, que fugiram da porção continental chinesa e se instalaram em Taiwan. A reversão só se deu em 1974, após a China comunista se aproximar dos Estados Unidos e assumir a cadeira chinesa no Conselho de Segurança da ONU.

Chineses gostam de efemérides e gostariam de anúncios significativos com o lado brasileiro no ano que vem. Em São Paulo, o embaixador Zhu Qingqiao fez um convite público a Brasília para se juntar à "família da Iniciativa de Cinturão e Rota", o projeto de infraestrutura bilionário que se tornou uma das principais marcas da era Xi Jinping.

No Itamaraty, restam dúvidas sobre os benefícios tangíveis de tal movimento. Estudos mostram que juntar-se à BRI, como é conhecida a iniciativa na sua sigla em inglês, não necessariamente aumenta investimentos chineses. De fato, a Itália decidiu abandonar o projeto porque viu seu déficit comercial com Pequim aumentar significativamente.

O Brasil vem resistindo a aderir, esperando sinalização dos chineses sobre quais ganhos teria com isso. Fala-se de sinergia entre projetos da BRI com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas até agora ficou por aí. Zhu, porém, insiste que é chegada a hora da "colaboração [sino-brasileira] atingir novos patamares". A iniciativa seria a resposta. Se vem aí, veremos.

Outra agenda importante para o presidente Lula pode contar com ajuda dos chineses. Enquanto partido, o PT há algum tempo vem estudando estratégias da China para erradicação da pobreza, e a Presidência já indicou que quer fazer do combate à miséria uma das principais agendas do G20 a ser sediado no Rio de Janeiro em novembro.

Durante a visita de Estado de Lula à China em abril, ouvi de pessoas com conhecimento do tema que o lançamento de uma iniciativa global para lidar com a fome esteve na agenda de ambas as delegações, mas acabou ficando de fora. Talvez o enorme fórum global em 2024 seja o momento mais auspicioso para algo do tipo.

Isso porque, ao contrário da esnobada à edição na Índia, Xi Jinping já sinalizou que vai comparecer à cúpula do G20 no Brasil. Nos bastidores, fala-se até que o líder chinês poderia chegar antes, buscando avançar agendas com Lula.

Xi está ciente que o ano deve ser desafiador para a China. Além da economia vacilante, haverá eleições presidenciais nos EUA, o que dificultará a cooperação com os americanos e demandará jogo de cintura da diplomacia chinesa em lidar com os ataques de cunho eleitoreiro vindos de ambos os lados do espectro político.

A cooperação com o Sul Global pode ser uma boa saída para a cobertura midiática negativa que está por vir. Bom para eles, bom para nós.

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