Igor Gielow

Repórter especial, foi diretor da Sucursal de Brasília da Folha. É autor de “Ariana”.

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Igor Gielow

Wal do Açaí é uma trinca na imagem de ruptura que Bolsonaro vende

Extensão do dano ainda é incerta, mas episódio da fantasma iguala deputado àqueles que critica

O episódio da Wal do Açaí, funcionária parlamentar de Jair Bolsonaro demitida após ser flagrada vendendo a intragável gororoba numa cidadezinha fluminense, explodiu no radar do entorno do candidato líder das pesquisas que descontam Lula.

Loja de açaí na pequena vila histórica de Mambucaba, onde trabalha, em horário de expediente, uma funcionária de gabinete do presidenciável Jair Bolsonaro
Loja de açaí em Mambucaba (RJ) na qual trabalhava funcionária de Bolsonaro, que acabou demitida - Ranier Bragon - 13.ago.2018/Folhapress

Como o teatro da candidatura do petista está próximo do fim, a partir do fim do prazo para seu ilegal registro e subsequente questionamento formal, em breve Bolsonaro deverá ser medido contra um cenário mais consolidado de concorrência.

Não há pesquisa alguma para dar alguma previsão à avaliação, mas duas conversas nesta terça (14) me deixaram com a impressão de que Wal ainda será um espinho complicado para a vaudevilleana campanha do deputado —logo num momento em que ele atrai interesse do PIB em São Paulo, se não por entusiasmo, ao menos por precaução.

A primeira troca foi aquela que nunca deve ser citada por um jornalista, como reza o cânone: com um taxista no centro de São Paulo. A segunda, mais estruturada, com um produtor rural de um interior bem interior do Sul do Brasil. Ambos eleitores do deputado, eles citaram, de forma espontânea, o episódio de Wal.

O substrato das observações era o mesmo: o caso em si não seria grave, mas mostra que Bolsonaro é um deputado como todos os outros. Isso parece fatal para as pretensões de quem procura vender a imagem de ruptura com o sistema político no qual está imerso há 28 anos.

Como já dito aqui, não é apontar as bizarrices de Bolsonaro que vai tirar seu voto. Ele pode não ganhar nenhum a mais, outra constatação, mas o que pode efetivamente desidratá-lo parece ser a associação com o “mais do mesmo”. Aí, suas desvantagens estruturais (preparo, experiência, rede político-partidária) acabam se sobressaindo.

Não é nada casual que os primeiros memes circulados por políticos adversários no WhatsApp já estavam na rua antes do meio-dia. De inocentes, eles não tinham nada. Esta é uma guerra na qual todas as trincheiras experimentam o mesmo gás mostarda.

Naturalmente, os apoiadores do deputado vão dizer que é tudo coisa da imprensa malvada. O núcleo duro desse grupo não muda de voto. A dúvida que fica, e anima tucanos e outros, é sobre como se comportarão as franjas dele.

 

Em velocidade condizente com o mundo interconectado em que vivemos, passamos do apocalipse emergente para uma apreensiva observação da crise na Turquia no período de algumas horas nesta terça (14).

Quem pode mesmo comemorar é nosso seleto grupo de presidenciáveis. Se a confusão se agrava, eles seriam obrigados a se pronunciar sobre como proteger o Brasil dos solavancos adicionais num cenário já volátil.

Grosso modo, sem tempo para consulta aos universitários, poderiam sair dali mutismo ou enunciados à H. L. Mencken —soluções simples, elegantes e erradas para problemas complexos.
 

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