Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ivan Marsiglia

Moro com ele

Chapa Bolsonaro-Moro em 2022 reacende ânimo da bolha governista no Twitter

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Desde a última pesquisa Datafolha, que detectou uma deterioração do capital eleitoral de @jairbolsonaro atribuída a seu discurso extremista, agravada pela fala belicosa na ONU e a fritura pública de Sergio Moro, o campo bolsonarista vinha jogando na defensiva no Twitter.

O clima mudou com a entrevista do ministro da Justiça à revista IstoÉ no sábado (28), em que Moro nega ter a intenção de disputar a Presidência em 2022 e admite a possibilidade de ser vice na chapa do atual chefe. Desde que Bolsonaro concordou em manter no cargo de diretor-geral da PF o delegado Maurício Valeixo, aliado de Moro, um armistício —ao menos provisório— parece assinado entre os dois.

Em sua coluna de domingo (29) na Folha, Elio Gaspari descreve aquela que seria a estratégia de Bolsonaro para 2022, que parte da premissa de que “Lula estará livre para falar o que quiser, com uma plataforma incapaz de atrair o eleitorado de centro. O capitão dedica-se a detonar eventuais candidaturas centristas, forçando um cenário de ‘eu ou eles’.”

Se Moro ainda sonha com a faixa nas próximas eleições, decidiu por ora jogar parado. Apoiadores comemoraram e provocaram analistas que previam um racha entre o ministro e o presidente. @AnaJuliaACosta6 “BOLSONARO PRESIDENTE E MORO VICE, EM 2022? O meu coração não aguenta!!!!”

@xandresmoraes Em resposta a @diogomainardi: “Mainardi, você saberia me dizer até quando o Antagonista manterá aquela notinha de rodapé: ‘Sérgio Moro já estuda o melhor momento para deixar o Governo’? A narrativa infundada de vocês foi para o espaço.”

Se o acordo marca uma reaproximação de Bolsonaro da Lava Jato ou, ao contrário, o desinteresse de Sergio Moro por ela, ainda é cedo para dizer. Mas houve quem sugerisse no Twitter que o ponto de convergência entre o bolsonarismo e o lavajatismo foi o ecumênico enterro da CPI da Lava Toga.

No sábado (28), uma liderança do Cidadania, principal partido de apoio à Lava Jato, compartilhou sem mais comentários a declaração de um colega no Senado: @eliseuneto “Alessandro Vieira, senador (Cidadania-SE) ‘Por que é difícil emplacar a CPI da Lava Toga? É difícil emplacar a CPI porque ela ataca justamente uma casta de privilegiados que nunca foi sequer ameaçada na história do Brasil’.”

Ficou a impressão de que não convém a Moro e seus procuradores melindrar —além de FHC e dos bancos, como mostraram as mensagens da Vaza Jato— colegas de magistratura.

Suicídio de reputação 

A declaração do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de que teria ido armado ao STF em 2017 para matar o ministro Gilmar Mendes e suicidar-se na sequência repercutiu no Twitter. A bizarra confissão, feita no recém-lançado livro de memórias de Janot, foi um dos principais temas de postagens dos últimos dias.

Na sexta-feira (27), o próprio ministro manifestou-se em sua conta: @gilmarmendes “Lamento que o ex-chefe da PGR tenha sido capaz de cogitações homicidas por divergências na interpretação da Constituição. É difícil não imaginar os abusos cometidos ao acusar e processar investigados. Seguirei firme na defesa das liberdades individuais e do Estado de Direito.”

A deputada Carla Zambelli, do PSL-SP, chegou a se solidarizar com Janot, mas apagou o post – registrado, porém, pela editora da coluna Painel, da Folha, e âncora do programa Roda Viva, @DanielaLima: “Deputada do PSL, ativista ‘contra a corrupção’, líder de movimento que faz manifestações contra ministros do STF, ‘pró-vida’, eleita com 76,3 mil votos. Diz o abaixo após o ex-PGR ter afirmado que sacou uma arma dentro do Supremo com intenção de assassinar um ministro.”

A operação de busca e apreensão realizada pela PF na casa e no escritório de Janot na sexta-feira (27), porém, também recebeu críticas. O jornalista e diretor-geral do portal Vortex, @diegoescosteguy, questionou: “As palavras de Janot, independentemente do que esclareci mais cedo, são graves. Mas qual o crime potencialmente cometido por Janot e qual a base legal para o mandado de busca e apreensão contra ele determinado por Alexandre de Moraes no chamado ‘inquérito do fim do mundo’?”

Desde sexta (27), quando sua declaração foi publicada na capa da revista Veja, o procurador manteve silêncio no Twitter. Em uma de suas últimas postagens, sobre a Lei de Abuso de Autoridade, conclamou: @Rodrigo_Janot “Ainda teremos saudades dos órgãos de controle independentes. A onda vem e vai para todos. Aguardemos o senhor tempo e as hipocrisias que virão. RESILIÊNCIA.”

Professor Mourão 

Discreto nas redes depois de incomodar o presidente por suas constantes manifestações, o vice @GeneralMourao, teve um par de tuítes sobre história do Brasil contestados.

O primeiro deles, postado sábado (28), ensinava que: “Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as #capitanias no #Brasil. Descoberto pela mais avançada #tecnologia da época, o País nascia pelo #empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens.”

O comentarista do programa GloboNews Internacional, @andrefran, discordou: “As capitanias foram doadas à elite próxima ao rei, um projeto falido em uma colônia de exploração com monopólio português que praticou o genocídio de povos indígenas e abusou da mão de obra escrava.”

No segundo, de domingo (29), o professor Mourão foi além: @GeneralMourao “Donatários, bandeirantes, senhores e mestres do açúcar, canoeiros e tropeiros, com suas mulheres e famílias, fizeram o Brasil. Só um povo empreendedor constrói um país dessas dimensões que segue o destino manifesto de ser a maior democracia liberal do Hemisfério Sul.”

O historiador e jornalista sul-africano @BenjaminFogel, doutorando em História pela Universidade de Nova York, espantou-se: “O vice-presidente do Brasil sugere que apanhadores de escravos e donos de plantações tenham criado o Brasil devido a seu ‘espírito empreendedor’. Ted Talk encontra a apologia histórica da escravidão.”

Máfia no divã 

Do filósofo e escritor @henrybugalho, compartilhando trecho da entrevista de Robert De Niro para a rede CNN no domingo (29): “‘Este cara (o Trump) é como um gangster’. Quando o Robert De Niro diz isto, um ator que interpretou uma dezena de gângsters no cinema, talvez seja a hora de levar a sério esta acusação.”

No vídeo, um desbocado De Niro responde com duas palavras às críticas que vem recebendo da governista Fox News por seu ativismo contra o presidente norte-americano: “Fuck em”.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.