Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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A um clique da guerra

Tuíte a tuíte, a escalada do conflito no Oriente Médio assusta os usuários da plataforma

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Antes mesmo que os funerais do general Qassim Suleimani na segunda-feira (6) reunissem milhares de pessoas em Teerã e o ato de guerra americano realizasse a proeza de juntar inimigos históricos como o Irã e o Iraque, a impressão de que a morte da segunda maior autoridade iraniana fora decidida por Donald Trump com a ligeireza de um tuíte já dominava a plataforma.

 

No domingo (5), o ministro da Informação das Telecomunicações do Irã disparou no Twitter: @azarijahromi “Como o Estado Islâmico, como Hitler, como Genghis! Todos eles odeiam culturas. Trump é um ‘terrorista de terno’. E vai aprender muito em breve com a história que NINGUÉM pode derrotar ‘a Grande Nação e Cultura Iraniana’. #HardRevenge #QasenSoleimani”

A postagem rebatia o “tuíte preventivo” e um tanto prolixo de @realDonaldTrump no dia anterior (4), quando o presidente americano ameaçou, caso o país reaja ao ataque, “alvejar 52 alvos iranianos (representando os 52 reféns americanos tomados pelo Irã há muitos anos), alguns em nível muito alto e importante para o Irã e sua cultura, e esses alvos, e o próprio Irã, serão atingidos MUITO RAPIDAMENTE E DE MANEIRA MUITO DURA. Os EUA não querem mais ameaças!”.

Mensagem tão palavrosa que sugeria alguém preocupado com a escalada pouco interessante de uma crise iniciada para bombardear —isso sim— o processo de impeachment que sofre no Congresso americano. Não por acaso, Trump voltaria ao Twitter no mesmo dia para comemorar: @realDonaldTrump “95% de aprovação ao Partido Republicano. Obrigado!”

Segunda-feira foi a vez de o presidente iraniano responder, no mesmo tom numerológico, ao congênere americano: @HassanRouhani “Aqueles que se referem ao número 52 também devem se lembrar do número 290. #IR655 Nunca ameace a nação iraniana.”

 Rouhani referia-se à derrubada, em 1988, pelo governo dos EUA, de um avião comercial iraniano que partira de Dubai e teria sido “confundido com um F-14”, matando todas as 290 pessoas a bordo.

Artistas como o diretor Morgan J. Freeman postaram mensagens estupefatas contra Trump: @mjfree “Donald Trump é um TERRORISTA. Donald Trump é um ABUSADOR DE CRIANÇAS. Donald Trump é um RACISTA. Donald Trump é um TRAPACEIRO. Donald Trump é um SEXISTA. Donald Trump é um COVARDE. Donald Trump é um MENTIROSO. Donald Trump é um TRAPACEIRO. Donald Trump é um CRIMINOSO. Donald Trump NÃO É MEU PRESIDENTE.”

No Brasil, depois que @jairbolsonaro levou o país para perto da crise ao anunciar, em entrevista na sexta-feira (3), sua disposição em “se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terrorismo”, o jornalista @JamilChade registrou em sua coluna no UOL o desconforto nos meios diplomáticos também com a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: “Dentro do próprio Itamaraty, comunicado emitido por chanceler em apoio ao ato de Trump foi duramente criticado por colocar em risco os interesses nacionais, por abandonar respeito à soberania e por quebra de uma tradição diplomática do país de diálogo.”

Enquanto isso, o perfil da embaixada russa em Londres destacava a fala do chanceler Sergey Lavrov, ressaltando o precedente perigoso aberto no mundo: @RussianEmbassy “Ministro #Lavrov ao Secretário americano #Pompeo: um Estado matar deliberadamente um funcionário de outro Estado, e no território de um terceiro Estado, é uma grave violação do direito internacional e merece condenação. #Iran #Soleimani”

Uma reportagem do jornal El País trouxe a avaliação feita pelo grupo extremista Hezbollah de que o assassinato de Suleimani inaugura uma “nova era” de alinhamento contra os EUA no Oriente Médio: @elpais_brasil “O partido-milícia libanês se junta às ameaças de represálias pelo ataque ao aliado iraniano.”

No domingo (5), um dos maiores especialistas do mundo nas relações entre os EUA e o Irã, o historiador iraniano-americano John Ghazvinian, diretor do centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade da Pensilvânia, sentiu na pele o aumento da tensão na imigração do aeroporto John F. Kennedy, em Nova York. E tuitou:

@johnghazvinian “Bem, acabo de desembarcar no JFK e – sem surpresa – sou levado para a salinha lateral onde me perguntam (entre outras coisas) como me sinto sobre a situação com o Irã. Queria ter dito: meu novo livro sai em setembro, mas já está em pré-venda na Amazon.”

Reza brava 

Do Twitter do escritor e frade dominicano @freibetto: “Bolsonero declarou ontem, 3/1, que ‘os livros, hoje, têm muita coisa escrita’. Tem toda razão, também acho que o cinema tem muita imagem sucessiva, o teatro tem muita representação, a TV tem muito programa... Livro bom, pra ele, é o que tem todas as páginas em branco!”

Vã filosofia 

Em meio a um mundo à beira da emergência climática e rachado pela crise no Oriente Médio, um tuíte do sociólogo francês de origem judaica Edgar Morin ganhou reply, em francês, do teólogo brasileiro Leonardo Boff.

@edgarmorinparis “A parte não está apenas no todo, o todo também está na parte. Então o Universo está em nós, o planeta está em nós, a vida está em nós, a espécie está em nós, a sociedade está em nós, a aventura humana está em nós.”

@LeonardoBoff Em resposta a @edgarmorinparis “Você disse algo indiscutível, mas quase completamente esquecido por todos. Por isso também estamos alienados. A salvação está em nós e o infinito também está em nós.”

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