Ivan Marsiglia

Jornalista e bacharel em ciências sociais, Ivan Marsiglia é autor de “A Poeira dos Outros”.

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Saída de Moro rompe bolha bolsonarista no Twitter

Núcleo radicalizado, porém, mantém-se fiel ao presidente e já queima camisetas do herói da Lava Jato

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Na manhã de sexta-feira (24), antes mesmo da entrevista coletiva em que o ex-ministro da Justiça @SF_Moro anunciaria sua saída do governo @jairbolsonaro e sairia atirando contra o presidente, o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) foi o primeiro a entregar as armas.

A reportagem, da Folha, foi compartilhada pela jornalista especializada em segurança pública Cecília Olliveira: @Cecillia “Demissão de Moro é começo do fim, diz líder da bancada da bala, 1 das 3 frentes de apoio a Jair, junto com evangélicos e agronegócio: ‘Ainda mais se a demissão foi por uma razão não republicana. Nem o PT teve a petulância de interferir na PF’, afirmou".

O aturdimento da bolha bolsonarista ficou claro no silêncio inicial de boa parte de seus apoiadores digitais. Até o aficionado Allan dos Santos, do site Terça Livre, deixou de lado a soberba habitual para pedir “calma”.

@allantercalivre “Agora a população vai querer a Ilona Szabó como Ministra? Muita calma nessa hora...”

E a deputada que, na esteira da crise, protagonizaria um ruidoso rompimento com seu padrinho e o chamaria de “maligno” ainda declarava eterna admiração: @CarlaZambelli38 “Sinto muito pela saída de @SF_Moro do Governo. Não só por ser meu padrinho de casamento, mas principalmente pela sua conduta exemplar de cidadão, juiz e Ministro. Sempre terá minha profunda admiração, bem como a gratidão de todos os brasileiros de bem. Obrigada, Moro!”.

Num dos tuítes de maior repercussão na bolha governista, com 53,3 mil curtidas, a ex-jogadora Ana Paula Henkel lamentou: @AnaPaulaVolei “Dia incrivelmente triste para quem torce pelo país. Não é só o governo que perde irremediavelmente hoje, é o Brasil. Sergio Moro é um gigante. Obrigada Moro. Este perfil sempre foi e sempre será #TeamMoro.”

E o também governista José Roberto Guzzo, colunista da @revistaoeste, ressaltou: @jrguzzofatos “Não poderia haver humilhação maior para Bolsonaro do que ouvir do ex-ministro Sergio Moro, em sua saída, que nem Dilma Rousseff quis falar com o diretor da Polícia Federal durante a Lava Jato e o seu processo de impeachment. Bolsonaro quer fazer o que Dilma não fez".

Fora da bolha, enquanto a ex-bolsonarista Joice Hasselmann abraçava o ministro dissidente, a presidente do PT Gleisi Hoffmann enfatizava sua conivência: @joicehasselmann “Começa AGORA campanha MORO 2022! Sergio Moro mostrou sua estatura. É herói nacional. Não se alia a corruptos, não abafa investigações, não negocia com bandidos. O governo perde seu maior ativo moral. Mas o Brasil ganha o melhor candidato para a presidência da República. #Moro2022”.

@gleisi “Moro sai ainda menor do que entrou. O falso herói contra a corrupção protegeu os corruptos da família Bolsonaro e jamais defendeu democracia ameaçada pelo chefe. Sai humilhado depois de fazer o serviço sujo. Uma pergunta o perseguirá: Cadê o Queiroz, Sergio Moro?”

Em seus perfis, governadores presidenciáveis manifestaram tristeza com a saída de Moro e enfatizaram a ingratidão de Bolsonaro. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu: “renuncie antes de ser renunciado”.

@wilsonwitzel “Assisto com tristeza ao pedido de demissão do meu ex-colega, o Juiz Federal Sergio Moro, cujos princípios adotamos em nossa vida profissional com uma missão: o combate ao crime. Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui, vossa excelência, tem carta branca sempre.”

@jdoriajr “O Brasil perde muito com saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Moro mudou a história do País ao comandar a Lava Jato e colocar dezenas de corruptos na cadeia. Deu sinal de grandeza ao deixar a magistratura, para se doar ainda mais ao nosso País como ministro.”

@FlavioDino “Fico impressionado com a ingratidão de Bolsonaro. Ele jamais seria eleito presidente da República sem as ações do então juiz Moro.”

@FHC “É hora de falar. Pr está cavando sua fossa. Que renuncie antes de ser renunciado. Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: a saúde e o emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil.”

Passada a perplexidade inicial, o vereador Carlos Bolsonaro, filho Zero Dois do presidente e pivô da exoneração do diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, deu a senha – um tanto cifrada – para a reação bolsonarista nas redes.

Gesto no qual o professor de literatura comparada da Uerj, João Cezar de Castro Rocha, viu a impressão digital do guru ideológico da família: @joaocezar1965 “É preciso ler com lupa o tuíte quase ininteligível: qual a origem da referência surrealista aos ‘que não se curvam ao positivismo’? Isso mesmo: Olavo de Carvalho! Eis a fonte da retórica do ódio, que produziu o ‘analfabetismo ideológico’ e a ‘idiotia erudita’: imagens do caos".

Palpite aparentemente certeiro, a julgar pelo tuíte eivado de populismo postado pelo “Bruxo de Virgínia”: @opropriolavo “A lei está do lado do Bolsonaro, mas a lei não manda mais nada no Brasil. Só o que conta é a força bruta do establishment contra a força bruta do povo".

No fim da noite de sexta, a hashtag #FechadoComBolsonaro foi ao topo dos trending topics com 710 mil tuítes, deixando para trás o #ForaBolsonaro (361 mil tuítes) impulsionado pela oposição. Mas o estrago estava feito.

Às 8h10 da manhã de sábado (25), a colunista do jornal O Globo @miriamleitão divulgava os números da primeira pesquisa sobre a saída de um dos pilares do governo: “A XP acaba de divulgar pesquisa feita ontem sobre a queda de Sergio Moro. 67% acham que terá impacto negativo no governo e só 10% acham que terá efeito positivo. 49% têm expectativa ruim ou péssima para o resto do governo Bolsonaro 18% apenas têm boa ou ótima expectativa.”

No domingo (26), o site @o_antagonista publicava o vídeo em que manifestantes do chamado “Acampamento Lava Jato” queimam uma camiseta com a imagem de Sergio Moro, anunciam novo nome para o grupo, “Acampamento com Bolsonaro”.

@o_antagonista “Vídeo: bolsonaristas queimam camiseta com imagem de Moro.”

Em ato semelhante, incendiários também tentaram intimidar o ex-ministro: “Ele nunca mais vai viajar de avião tranquilo".

Levando em conta três outras pesquisas divulgadas segunda-feira (27), porém, o aumento da temperatura na bolha bolsonarista parece demonstrar mais desespero do que força –e que o tempo virou para o presidente.

A consultoria de dados Quaest, que mede o IDP (Índice de Popularidade Digital), registrou que, na data em que anunciou sua saída do cargo, Moro atingiu 52,1 pontos, acima dos 30,7 que tinha na véspera. Já Bolsonaro caiu para 75,8 pontos, abaixo dos 82,9 do dia anterior.

Tempo fechado também na enquete veiculada pelo jornal El País. O professor de relações internacionais da UFMG Dawisson Belém Lopes resumiu num tuíte os números, citando a célebre frase do ex-governador mineiro Magalhães Pinto:

@dbelemlopes “‘A política é como nuvem...’ *54% dos brasileiros querem impeachment de Bolsonaro *49% consideram governo ruim/péssimo *Mandetta e Moro, nesta ordem, seguem como mais populares do Brasil *Rejeição a Bolsonaro atinge 65% e supera a de Lula (60). Fonte: Atlas, 24-26 abril 2020.”

No início da noite, pesquisa Datafolha confirmou a erosão da credibilidade do presidente (52% dos entrevistados dizem crer na versão de Moro e só 20% na de Bolsonaro), mas também a resiliência de sua base de apoio, que se manteve em 33%.

Lembrete

Em meio a outra crise fabricada no Planalto em plena epidemia de coronavírus, repercutiu no Twitter o desabafo atribuído a um profissional de saúde diante do afrouxamento do isolamento social no país.

@jimmyfriki “Decepção do dia: eu o dia todo paramentado, me expondo sete dias por semana e meu instrutor de muay ontem na casa de um amigo... Parem de se expor, por favor. Cada um que aparece com COVID-19 ou suspeita é risco para mim também. Eu tenho família, tá? Tenho sonhos. Pai, mãe, irmãs, namorada...”

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