Janio de Freitas

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Convém perguntar-nos se não estamos já no estado de golpe

No STF e TSE, repousam opções diante de olhos que as conhecem e não as querem ver

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O desvario de Bolsonaro se propagou. Vive-se uma situação de maluquice institucional em que os juízes do Supremo Tribunal Federal passam a acusados, quem venceu a principal eleição condena-a por fraudulenta, o maior falsário de verdades no país tem o cargo de presidente, o general encarregado da Saúde dá condições para a morte prematura de centenas de milhares, a grande questão nacional é a derrubada ou permanência do sistema que encerrou mais de um século de roubalheira eleitoral.

Confrontam-se agora os adeptos e os críticos das máximas criadas por ninguém menos do que o ministro do nazismo Joseph Goebbels. Haja desatino.

Os inúmeros protagonistas dessa situação maluca, ou a impulsionam, ou se mantêm na inércia dos dementes dopados de velhos hospícios. Aos que veem o mundo de baixo para cima, é prudente não procurar nos poderes amalucados onde se encontram os sensos de vergonha, ridículo, dever e compromisso, presente e futuro.

O presidente Jair Bolsonaro durante live em que fez discurso repleto de mentiras e distorções para alegar fraude em urnas - Reprodução / TVbrasil no youtube

Os conluios do autoritarismo ambicioso e do imobilismo acovardado ou interesseiro chegam, sempre, a pontos de ruptura decorrentes dos seus próprios excessos. É o que faz a rebelde CPI da Covid no Senado. De início desacreditada por muitos, hoje com saldo admirável de desnudamentos da farsa bolsonarista-militar, a CPI tem induzido muito da correção informativa visível nas sondagens eleitorais. Algo semelhante é a resistência à volta do voto impresso.

Os bolsonaristas precisaram de uma tramoia para adiar a votação preliminar. Ficou para 5 de agosto, sendo o motivo básico da repentina substituição do general Luiz Eduardo Ramos, na Casa Civil da Presidência, pelo senador Ciro Nogueira. Aí está o primeiro teste, na nova função, desse presidente do PP e político de natureza camaleônica. Há pouco mais de um mês, seu partido integrou as 11 siglas que se coordenaram em defesa da urna eletrônica.

A saraivada de mentiras e agressões verbais de Bolsonaro ao Supremo, ao Tribunal Superior Eleitoral e a magistrados, na noite de quinta-feira (29), está em suspense para definir-se como ponto de ruptura ou não. Por mais aborrecido que lhes pareça, esses ministros judiciais foram postos agora, por Bolsonaro, em situação: tudo indica que chegaram ao último espaço antes da desmoralização indelével. Sabem disso. Bolsonaro espera.

Está previsto para esta segunda-feira (2) um pronunciamento do Judiciário. Se para mais considerações, o Supremo menos perderia com o silêncio. O ridículo já mudou de lado, dos bolsonaristas para o Congresso, onde só a CPI da Covid tem sido leal à Constituição, e para os tribunais curvados às agressões de Bolsonaro. E já há o trânsito do ridículo para o vergonhoso.

Toda expectativa de conduta aceitável em Bolsonaro é gerada por demência filiada à dele ou por ganância e avareza em níveis também demenciais --o que é a mais perceptível contribuição para os 48% de aprovação a Bolsonaro no empresariado. Não há possibilidade de que alguma lucidez, algum bom senso, alguma boa qualidade humana e cívica tolere a desgraça que é imposta ao país. O de hoje, tão cruel com a maioria, e o que será vivido por nossos filhos e netos.

As portas abertas do Congresso não significam que lá dentro vigore o exercício real das responsabilidades com a preservação do regime constitucional democrático. No Supremo e no TSE, guardiães de amarelecidos recursos contra o cerco de Bolsonaro às instituições da democracia, repousam possibilidades diante de olhos que as conhecem e não as querem ver, por comodismo ou por temor.

Convém perguntar-nos se não estamos já no estado de golpe.

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