Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

A volta do impeachment?

Ou mais cidadãos levantam essa bandeira ou não adianta reclamar depois

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Defendo o impeachment de Bolsonaro desde março de 2020, quando ele disse ter provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas.

Esse tipo de ataque frontal a outro Poder não pode ser tolerado. Concedo, contudo, que suas ações de lá para cá na pandemia foram muito mais graves.

Pela sabotagem ao isolamento social e ao uso de máscara, pela negligência na compra de vacinas (imaginem como estaríamos na vacinação não fossem os esforços do Governo de São Paulo), pela promoção de um remédio ineficaz como se fosse panaceia. Já estamos no top 10 mundial em mortes por milhão de habitantes nessa pandemia e continuamos subindo.

Os protestos de sábado, prudentes ou não do ponto de vista da saúde pública, reacenderam a esperança do impeachment. Foram grandes —ao menos o de São Paulo— e fizeram o Planalto estremecer.

Bolsonaro chegou ao poder atacando o establishment, mas agora é (ou melhor, revelou-se) parte dele.

Vez ou outra ainda tem algum arroubo discursivo contra “o sistema”, mas fica cada vez mais difícil mostrar-se algo diferente: aliado do centrão, para o qual já abriu canal bilionário de emendas e cargos, tendo indicado para o Supremo um ministro que não prima pelo combate à corrupção.

Tem órgãos de imprensa e empresários amigos. Sua grande estratégia de marketing, neste momento, é sair pelo Brasil tirando foto de inauguração de obras. Revolucionário!

Hoje em dia é muito fácil atacar e destruir. As contradições e incoerências inerentes ao exercício do poder são captadas e expostas ao grande público.

Quando o governo é incompetente ou age de má-fé, então, o trabalho é facilitado. Há duas possibilidades aí. Uma interessa ao centrão: Bolsonaro enfraquece, o preço para permanecer no barco do governo aumenta.

O presidente terá que gastar mais para manter sua base no Congresso, com cada vez menos espaço para as agendas que originalmente o elegeram. Abre a carteira para sobreviver.

Se o fizer, pode chegar à eleição melhor do que está agora. Em outubro de 2022 a pandemia terá passado, e a economia deve ter se reaquecido, voltando à trajetória pré-coronavírus (que estava longe de espetacular, mas era muito melhor do que o momento atual).

Isso se novos desastres —inflação, apagão— não abalarem ainda mais sua popularidade. Ou seja, contando com um pouquinho de sorte, Bolsonaro pode sair impune e até se reeleger.

Sem o empurrão decisivo da indignação popular, o jogo correrá a seu favor. São atos como o de sábado —apenas maiores e ideologicamente mais amplos— que podem virar a balança de interesses do centrão.

O bolsonarismo retrocede. Claro que muitos bolsonaristas continuam firmes na defesa da fé. Mas não conheço ninguém que tenha se convertido, ou aumentado sua adesão, a essa religião política.

Os números estão em queda, conforme mostram as pesquisas, as ruas e a discussão nas redes, que ele já não consegue dominar. O governo cambaleia, mas não morrerá sozinho.

Até agora, o grande beneficiado dos protestos de sábado foi, além do centrão, o PT. E sabemos que ele não dará, por conta própria, o passo decisivo. Interessa a Lula enfrentar um Bolsonaro enfraquecido, e não um candidato moderado. A chance do impeachment é entre agora e o fim do ano. Ou mais cidadãos, de todo o espectro ideológico, levantam essa bandeira ou não adianta reclamar de escolhas difíceis depois.

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