Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

Muita politização atrapalha nosso desenvolvimento

Quando aspecto político se torna o único critério, nada avança, exceto pela força

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Saneamento básico, melhora da educação, sustentabilidade, contas públicas. Haverá temas mais importantes para o desenvolvimento do Brasil? E, ao mesmo tempo, haverá temas mais entediantes?

Discutir o mérito de qualquer questão é chato. Exige algum tipo de estudo, exige entrar em um campo no qual o objetivo não é vencer alguém do outro lado, e sim quebrar a cabeça para encontrar soluções para problemas complexos. A discussão fica no campo cognitivo, do conhecimento, e não no campo da moral.

É fácil, contudo, deixar esses temas mais empolgantes. É só tratá-los como uma disputa política, isto é, como o conflito entre dois grupos por mais poder e recursos. Melhor ainda se conseguir encaixá-lo em alguma grande narrativa do bem contra o mal. Aí, torna-se irresistível. O único detalhe é que se abre mão do principal.

O debate ambiental vira a cruzada para preservar o meio ambiente dos interesses de capitalistas malvados ou então a luta para nos libertar da ditadura globalista imposta por ambientalistas dos países ricos. Soluções que busquem, em alguma medida, conciliar crescimento, preservação e sustentabilidade ficam quase impossíveis de se defender, pois não se encaixam direito em nenhum dos lados.

Temos algumas boas evidências sobre o que pode funcionar no ensino básico, inclusive com bons exemplos brasileiros. Mas se a discussão se perde entre a defesa de sindicatos ou de empresas privadas ou entre quem vê uma terrível conspiração comunista para perverter crianças e quem rejeita qualquer tipo de métrica de desempenho ou testagem como meritocracia neoliberal, fica difícil avançar. E, infelizmente, muito mais apaixonante de se discutir.

A privatização dos Correios é outro exemplo. Entre louvores à iniciativa privada abstrata e condenações ao “neocolonialismo neoliberal”, perde-se a chance de se realizar um debate minimamente informativo. E ignora-se que tanto a gestão privada quanto a gestão estatal de um serviço de entrega de cartas são plenamente compatíveis com uma democracia funcional.

O aspecto político sempre existirá. Os homens formam grupos que competem pelo poder, e o resultado dessas disputas volta e meia depende das crenças sobre fatos da realidade. Mas essas disputas não são toda a realidade.

A política não se faz no vazio. Para além das hierarquias humanas, há um mundo objetivo. Saber qual classe se beneficia no curto prazo com uma certa mudança é menos importante do que discutir qual tipo de medida terá os impactos desejados para a sociedade como um todo num prazo mais longo.

O Brasil poderia fazer distribuição de renda mais eficaz, poderia usar melhor o orçamento da educação, poderia criar um ambiente de negócios mais favorável e uma política ambiental mais eficaz. No entanto, permanecemos sem uma agenda substantiva desde pelo menos a eleição de Dilma. A única bandeira possível é vencer os inimigos da vez.

O que movimenta as paixões por uma causa é, via de regra, seu aspecto político. Assim, ele segue necessário. Mas quando ocorre, como no momento atual, de ele se tornar o único critério pelo qual as discussões se encerram e se dividem em dois lados intransigentes, cada qual preso a um radicalismo surdo (o que não significa que todos os radicalismos sejam igualmente ruins, apenas que fogem ao ótimo), nada avança, exceto pela força.

Tanques desfilam pelas ruas para influenciar um debate sem substância.

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