Jorge Abrahão

Coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

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Temos transporte gratuito para votar: 50 milhões de eleitores beneficiados

Em São Paulo, ônibus terão passe livre das 6h às 20h neste domingo (30)

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Em um momento em que a democracia se vê ameaçada por gritos, granadas e fuzis, São Paulo comemora a gratuidade no transporte municipal para o segundo turno das eleições. Mais de 200 organizações da sociedade civil reivindicaram a medida para o próximo domingo e, nesta segunda-feira (24), o prefeito Ricardo Nunes a concedeu. Assim, os ônibus municipais estarão com as catracas travadas (quem entrar pela porta da frente desembarcará por ela, por exemplo) entre as 6h e as 20h, em caráter excepcional, e a frota será reforçada em 2.000 veículos.

A decisão se deu após pressão da sociedade, representada por um grupo de organizações da sociedade civil que estiveram na prefeitura para discutir o acesso democrático às urnas. Afinal, considerando os mais de R$ 4 bilhões em subsídios previstos pelo município às empresas de ônibus ao longo de 2022, quão insignificante é o valor de R$ 7 milhões (0,2%), custo de operação do dia da eleição?

Garantir o transporte gratuito é promover um direito da população, mas também permite cumprir uma obrigação, considerando que o voto no Brasil é obrigatório. O acesso ao deslocamento nas cidades é uma forma de incentivar o direito-dever do voto, assim como funciona no acesso a serviços públicos, oportunidades de trabalho e renda. O Mapa da Desigualdade da capital paulista já denunciava que, em 2021, havia uma taxa de oferta de emprego formal variando 290 vezes entre os distritos da Sé e de Iguatemi, no extremo leste da cidade. Ou seja, enquanto os moradores da região central contam com oportunidades perto de suas casas, outros gastam tempo e dinheiro para acessar as mesmas oportunidades.

Corredor de ônibus da av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, zona sul de São Paulo; segundo turno das eleições terá passe livre das 6h às 20h - Danilo Verpa - 28.fev.2019/Folhapress

De forma complementar, a pesquisa Viver em São Paulo: Mobilidade aponta que, no último ano, 43% dos paulistanos deixaram de visitar amigos ou familiares que moram em outros bairros da cidade em função do preço da tarifa do transporte. O percentual chega a 32% que deixaram de ir a consultas médicas e a 29% de procurar emprego, reforçando o transporte acessível e de qualidade como um grande diferencial no combate às desigualdades territoriais.

Muito mais do que um posicionamento político de momento, a escolha pela gratuidade passa uma mensagem de estímulo à participação da sociedade e fortalecimento da democracia. Em um período de forte descrédito na política e nos políticos, a reação da sociedade tem sido de reduzir sua participação. Recente pesquisa feita pelo Ipec para o Instituto Cidades Sustentáveis mostrou que 7 em cada 10 brasileiros não têm interesse em participar da vida pública do país.

O gesto da gratuidade é de grandeza política e gera empatia, em um momento em que a crise econômica e a inflação apertam os cintos de boa parte da população. Nestes tempos, a sensibilidade pode aproximar a política da população. Esperamos que as conquistas desta eleição se consolidem como política pública, já que a participação da sociedade é o primeiro passo do futuro interesse na política, de forma que possam estimular e cobrar os candidatos em que votaram.

A Constituição de 1988 garantiu o pleno exercício da participação política de todos os brasileiros. No conflituoso cenário atual, esse direito foi reforçado por diversas Defensorias Públicas e pelo próprio STF, com recomendações e ações judiciais, visando a gratuidade nas eleições. O compromisso das instituições reforça a movimentação da sociedade civil, que já alcançou a gratuidade no transporte municipal no segundo turno em 178 cidades brasileiras —incluindo todas as capitais, exceto Rio Branco—, alcançando, assim, mais de 50 milhões de eleitores, o que corresponde a aproximadamente um terço do total do país.

Os eleitores dessas cidades poderão acessar as urnas gratuitamente. Em um ano em que a abstenção passou dos 20%, a mais alta em eleições gerais desde 1998, o posicionamento dos governos municipais pode ter ainda mais peso no processo decisório. Pesquisa do Datafolha apontou que 2% dos eleitores que não foram votar apontaram a falta de dinheiro como motivo e 8% citaram que o local de votação é muito longe.

Mais importante do que saber em quem votarão é a certeza de que estarão exercendo seu direito de participação e cidadania. Eleição é festa cívica, e nada melhor do que ter transporte gratuito para se fazer presente.

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