José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Insultos na política se tornaram recurso de quem quer visibilidade a qualquer custo

Homens e mulheres públicos perderam a elegância do passado, o pudor no presente e a vergonha no futuro

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O insulto em política é algo relativamente comum, usado muitas vezes por homens e mulheres públicos —e até com assinalável qualidade literária. Faz parte da arte política e, quando foi empregado com ironia e inteligência, chegou a produzir belas frases, que perduraram na história.

Uma vez, o escritor e diplomata português Eça de Queiroz, dirigindo-se ao presidente do governo luso, acusou deliciosamente: "O governo de vossa excelência não há de cair, porque não é um edifício. Tem de sair com benzina —porque é uma nódoa!".

Em inglês, mais ao norte, outro político e também escritor —que até ganhou o Nobel de Literatura—, o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill, certa vez respondeu certeiro no Parlamento a uma deputada que o acusava de estar embriagado na sessão: "É verdade, mas a senhora é feia, e amanhã eu estarei sóbrio".

Winston Churchill acende charuto em fotografia sem data definida
Winston Churchill acende charuto em fotografia sem data definida - Reprodução

Pérolas de inteligência, capazes de simultaneamente permanecerem no tempo e atingirem com dor a integridade do adversário. São muito mais eficazes do que qualquer desses xingamentos básicos, a única coisa que os políticos de hoje parecem conseguir dizer.

O insulto se simplificou. Empobreceu, generalizou-se e está em toda parte —na internet, nas mídias sociais, nos aplicativos de conversa no celular—, mas é pouco mais que lixo avulso atirado por quem quer ter uma resposta e angariar visibilidade pública a qualquer custo.

Como a maioria dos políticos perdeu a elegância do passado, o pudor no presente e a vergonha no futuro, é apenas isso que são capazes de produzir. Desabituados a ler, agem como se uma ideia não fosse a semente de algo por começar, mas ela própria já seu defunto fruto.

Hoje, uma troca parlamentar de argumentos ocupa meia dúzia de palavras. Faz-se de pequenos títulos, menores que tuítes. Palavras imediatas e próximas, capazes de produzir efeito no momento seguinte. É uma dor na alma assistir a muitos deputados, senadores e outros tribunos se insultarem usando monossílabos infantilizados.

Na semana que passou, um político português da nova geração, por acaso de ultradireita —o oportunismo não escolhe lado, é a sorte que o determina—, desejou tornar-se internacionalmente famoso aproveitando a condenação que o Parlamento fazia aos ataques em Brasília: chamou de "bandido" o presidente do Brasil.

É verdade que, na democracia, o lugar que esse deputado ocupa no Legislativo luso, representando o povo português, lhe dá essa oportunidade. Mas, como se costuma dizer em terras portuguesas, também é a oportunidade que faz o vilão.

Como o significado do insulto não é o objeto deste texto, mas sim evidenciar a franciscana pobreza de quem o produz, condena-se o autor ao pior castigo que ele pode ter: deixá-lo no anonimato.

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