Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Para ela, o turismo pós-pandemia começaria na própria cidade, só que...

Sua lista de turismo possível e proveitoso incluía Pateo do Collegio, avenida Paulista e represa de Guarapiranga

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Seu plano para os primeiros três dias estava claro.

Nova York, já conheceu. Deu um pulinho quando estava em Miami. Paris continua sendo apenas um sonho —que vai realizar, pode anotar. Os rincões brasileiros em que nunca pisou, não vão escapar, e será logo: como, por exemplo, até hoje não conhece a Amazônia, se o mundo inteiro só fala dela (e, na boa, se não for logo, não sobra nada com este governo piromaníaco).

Mas, como o começo é o começo, vamos com calma. Ela tem 30 anos, muito ainda pela frente. O filho, pequeno, atrapalha um pouco planos de viagem mais ousados; mas nos primeiros três dias pós-pandemia, ou pós-começo-do-fim-da-pandemia, que já anunciaram para daqui a poucas semanas, vamos com calma.

Só sair de casa já será um alívio. Levar a criança para o ar livre, parece um sonho. Que ela vai realizar, de máscara, que seja, bem ali por perto: turistando na própria cidade.

Como é que uma paulistana nunca pisou no Pateo do Collegio, berço da sua história, por exemplo? Cruzes, os jesuítas construíram o bagulho há mais de quinhentos anos, e ela até hoje nem pra dar as caras. Ah, tem que ir. Verdade que ouviu dizer que depois dos jesuítas vieram os mercantilistas e os capitalistas e com tantos istas, capela, colégio, foi tudo derrubado, e só ficaram réplicas, mas diz que pelo menos um pedacinho de parede, embora bem detonada, ainda é daquele tempo. Como as ruínas que devem existir na cidade de seus sonhos, Paris.

Em seu devaneio de recomeçar uma vida exterior por um turismo possível, mas também proveitoso, anotava detalhes em seu caderno de ideias, tipo “Pateo do Collegio (história) —com criança— de metrô”.
Se num dia de exploração da sua própria cidade iria ao centro, no dia seguinte o plano era “Guarapiranga (natureza) —com criança— de carro (muito longe)”.

Sim, porque sempre ouvira —acho que até vi na televisão, matutava— que na periferia de São Paulo, mas ainda dentro da cidade, nos confins da zona sul, havia uma área rural de verdade. Dentro de São Paulo, capital, acredita? Bairros ainda com bosques antigos, ruas de terra e moradores trotando cavalos.

E tem mais: boa parte disso à beira da represa, então era meio campo, meio praia. Até mesmo casas chiques, com garagem para barcos (e cocheiras!). Dentro da cidade! Estava investigando se haveria alguma área pública onde pudessem brincar, andar a cavalo, como se estivessem no interior, ou nadar como se estivessem no litoral (anotação: coronavírus vive na água? coliformes fecais sei que sim, mas tem na represa, ou é limpa?).

O terceiro dia de turismo doméstico pós-pandemia seria levar o filho para um passeio cultural, urbano, a cara da cidade. Passear pela avenida Paulista e visitar museus e centros culturais. Começando pelo MASP, claro, orgulho da cidade e do Brasil, e que na verdade... mesmo morando na cidade... ela nunca, nunca visitou (pronto, falei! Mas ninguém é perfeita).

Fachada do Pateo do Collegio, no centro de São Paulo
Fachada do Pateo do Collegio, no centro de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress

(Anotação no caderninho: Paulista —MASP, centro cultural japonês, tudo tudo— a pé.)
Muitas vezes já estivera na avenida Paulista. Sempre passando, de carro; ou submersa, abaixo do mar de gente, no metrô. Mas tinha certeza de que olhar aquele cartão postal caminhando devagar, olhando os edifícios debaixo pra cima, admirando suas formas e o poder que deles emana, parando nas bancas de jornal nem que apenas pelas capas de revista, escolhendo uma bijuteria do artesão, sentando num banco para ver o desfilar das pessoas (pera aí, será que tem banco pra sentar? deveria, mas nunca reparei...), tudo isso será uma experiência diferente de conviver com a cidade. Vamos adorar, com certeza. Pelo menos pra isso o maldito vírus serviu.

Semanas depois, finalmente chegado o dia em que o isolamento seria largamente relaxado, havia muito o que fazer (trabalho, louça, crianças): difícil ter tempo de passar os dias perambulando por aí. Ademais, estava também ocupada buscando passagens baratas para realizar seu antigo sonho: finalmente conhecer Paris!

Paris! No Réveillon, com neve e tudo, que tal?

São Paulo merece ser conhecida mais de perto, claro. A cidade é sua casa... mas cara, foram meses trancada em casa... acho que agora merecemos Paris. Sendo que ainda dá tempo de trocar por Miami.

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