Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu pelé

Livro de PVC conta a história da evolução do futebol mais bonito do mundo

Obra traz bastidores de histórias recentes e longínquas, além das táticas que mudaram o jogo

Homem com camiseta cinza e braços cruzados, ao lado de parede com imagem de bola de futebol
O colunista da Folha Paulo Vinícius Coelho, no Rio de Janeiro - Zo Guimaraes/Folhapress

A escola brasileira de futebol sempre foi considerada pelo mundo afora como uma das melhores do planeta.

Tinha como concorrentes desde sempre a escola argentina, tão boa como em qualidade, apenas menor em quantidade por motivos óbvios, a italiana e a alemã, vistas como mais eficazes e menos mágicas.

Com o passar dos anos a holandesa ganhou respeito ao fazer a revolução do chamado "futebol total".

Acontece que de 1958, ano da primeira Copa conquistada pela seleção brasileira, até o pentacampeonato em 2002, o quase meio século de hegemonia nacional liquidou qualquer dúvida sobre onde nasciam os melhores jogadores da Terra.

Pense no time campeão na Suécia, com o Rei Pelé e Mané Garrincha, dupla que jamais perdeu um jogo pelo Brasil. 

Acrescente que, naquela Copa, o jogador eleito como o melhor do torneio não foi nem um nem outro, mas Didi.

Lembre que no Chile, quatro anos depois, além de Mané e Didi, apesar da lesão na virilha de Pelé, havia uma dupla santificada nas laterais, Djalma e Nilton Santos.

Ou que, em 1970, no México, além de Pelé estar no auge, havia Tostão, Rivellino, Gérson e Carlos Alberto, e que Romário arrasou em 1994, nos EUA, assim como havia dois Ronaldos e Rivaldo em 2002, na Ásia.

Homem com shorts azul e camisa amarela levanta taça em meio a multidão
O capitão da seleção brasileira, Carlos Alberto Torres, levanta o troféu após vencer a Itália na final da Copa de 1970, na Cidade do México - Photo by Rolls Press/Popperfoto/Getty Images

Esqueça um pouco dos times vencedores para recordar o de 1982, na Espanha, com Júnior, Falcão, Zico, Cerezo e Sócrates, sob a batuta de mestre Telê Santana, embora duramente criticado por João Saldanha, como o livro rememora.

País algum no mundo, num período tão longo, foi capaz de produzir tantos gênios e ainda juntá-los no mesmo time.

Para não falar daqueles anteriores, sobre os quais mais lemos que vimos, como Friedenreich, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Ademir, tantos.

É sobre tudo isso que Paulo Vinícius Coelho escreveu num bem sacado livro que a editora Objetiva acaba de lançar. 

Sem futebolês, ao contrário, em estilo leve e agradável, PVC faz uma enciclopédica viagem pelas vitórias e derrotas do esporte de um Brasil que, se nunca foi, como gostamos de nos auto enganar, "o país do futebol", porque frequentamos muito pouco nosso estádios e não reverenciamos o jogo como outros povos, sempre se caracterizou pela excelência na produção de verdadeiros artistas do ludopédio.

De quebra, o vizinho nesta Folha traz bastidores de histórias recentes e longínquas, além das variações de táticas que mudaram a cara do jogo através dos tempos, protagonizadas por treinadores criativos, geniais, autoritários, desastrados ou superados.

O Brasil que perdeu a várzea para a especulação imobiliária ou precisou regulamentar horários para o futebol de praia aparece radiografado sem disfarces, mas, inevitavelmente glorioso, fruto da picardia, da malícia, do improviso e da ciência de jogadores e comissões técnicas, incomparavelmente superiores aos cartolas.

Talvez, sublinhe-se o talvez, tenha faltado uma pensata sobre a influência da miscigenação na formação do jogador brasileiro, tarefa mais apropriada para antropólogos que para jornalistas.

Porque parece claro que o sangue indígena, africano e europeu que corre em nossas veias tem a ver com a originalidade do DNA capaz de produzir Garrinchas, Pelés e Zicos.

São quase 300 páginas obrigatórias para os amantes do esporte mais popular do mundo, felizmente em português, mas não se surpreenda se mais adiante a encontrar em outras línguas, pois méritos tem para tanto.

Ah, sim! O nome do livro?

Ora, "Escola Brasileira de Futebol".

Volto em 3/6.

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