Algum tempo atrás, por causa da distribuição de verbas da TV, houve quem previsse a chamada espanholização do futebol brasileiro e que Flamengo e Corinthians assumiriam o papel desempenhado por Real Madrid e Barcelona.
Ajudava a previsão o fato de o rubro-negro carioca começar um saudável processo de gestão responsável e as promessas do cartola corintiano Andrés Sanchez em fazer do clube um dos três maiores do mundo em cinco anos.
Quem acompanha a coluna sabe que a teoria nunca foi aceita por aqui. Porque o Brasil não é a Espanha e mesmo os clubes não tão populares têm massas suficientemente grandes para respaldá-los.
Os dois grandes gaúchos, os dois mineiros, o ascendente Athletico-PR, quem sabe o Bahia, não nasceram para aceitar papel subalterno, jamais serão o Getafe ou até o Valencia.
Para não citar o óbvio, como a grandeza do São Paulo, do Palmeiras, do Vasco, embora haja motivos de preocupação para Santos, Fluminense e Botafogo.
Aos mais frágeis, a única tábua da salvação está na liga de clubes.
Mexe daqui, mexe dali, os ventos do momento apontam para eventual hegemonia ainda do Flamengo e, certamente, do Palmeiras.
O risco na Gávea é o da implosão do saneamento financeiro em nome de ser campeão a qualquer custo.
O investimento de quase 90 milhões de reais em De Arrascaeta, Gabigol e Rodrigo Caio dá a medida do quão ansiosa está a nova diretoria.
A situação do Palmeiras é outra, aparentemente bem mais escorada para se tornar autossustentável.
Também é evidente que ter mais dinheiro não redunda, necessariamente, em taças. São incontáveis os exemplos de times, ou ataques, dos sonhos que fracassam.
Para ficar no chavão, dinheiro ajuda, mas não é tudo. Principalmente no futebol, tão afeito ao imprevisto e aos mata-matas.
Ainda na semana passada, o lanterninha do Campeonato Francês, Guingamp, eliminou o milionário PSG de Neymar e companhia da Copa da Liga Francesa, em Paris, por 2 a 1, fruto de dois gols de pênalti. Diga-se que foram três os pênaltis marcados para o pequeno na casa do grande, coisa que só pode ser atribuída ao Imprevisível da Silva.
Dito isso, é fácil dizer também que o Guingamp, clube de uma comuna de menos de 8.000 habitantes a 480 quilômetros da capital, não ganhará a Copa e será rebaixado e que o Paris Saint-Germain ganhará novamente o campeonato.
Em resumo: na França estamos diante do monopólio do PSG graças a um biliardário qatari, às vezes surpreendido; na Espanha, apesar da dupla hegemônica ainda existe o Atlético de Madri para incomodar e, aqui, enquanto o modelo de gestão for da mão para boca, não se separar o futebol da área social e criar as sociedades anônimas do futebol, será difícil o estabelecimento de impérios duradouros.
A aposta do ano é na soberania das cores verde, vermelha e preta. Amanhã, “chi lo sa”?
Tsunami
O Ministério Público gaúcho abriu a caixa preta da gestão passada no Inter ao revelar a associação milionária entre cartolas e empresários de atletas. Se o exemplo for seguido, os MPs estaduais destamparão o submundo de nosso futebol.
Burrada
A reportagem de Danielle Brant e Paulo Passos sobre a obra que a Globo Livros não publicou, sobre o Fifagate, repercutiu mais do que repercutiria o próprio livro.
É o que acontece quando se é mais realista que o rei.
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